sexta-feira, 17 de agosto de 2012

TOURADA EM VIANA DO CASTELO, PORQUÊ?

Depois de uma década e meia de profunda requalificação urbana e ambiental, com preservação e valorização dos recursos naturais, Viana do Castelo desenvolveu um modelo de cidade com estilos de vida saudável em perfeito equilíbrio com o privilegiado ecossistema envolvente.

O respeito pelos direitos dos animais e a decisão de declarar “Viana do Castelo Cidade anti-touradas” foram consequências naturais da evolução civilizacional da comunidade vianense, com aprovação da esmagadora maioria dos cidadãos e escassíssimas manifestações de oposição, como aliás o demonstraram os proprietários da Praça de Touros (que a venderam sabendo que acabariam as touradas) e, até, do centenário clube taurino da cidade que há muitos anos se dedica tranquilamente à prática de bilhar e xadrez.

Em Viana do Castelo não há touros, nem toureiros, nem forcados e as touradas nada tinham a ver com a Romaria d’Agonia, dedicada às belezas vianenses – o traje, o ouro, as danças e os cantares, o cortejo, as procissões e o fogo de artifício que atraem muitas centenas de milhares de forasteiros anualmente.

Ninguém sentiu a falta da tourada nos últimos três anos da romaria e Viana viveu tranquilamente a sua festa maior sem acolher no seu seio o bárbaro espectáculo onde os pobres touros, que vinham de fora, para aqui sofrerem torturas sanguinárias de toureiros, que também vinham de fora, para mórbido prazer de umas centenas de aficionados que, igualmente, de outras paragens chegavam à cidade!

Mas “Viana anti-touradas” é um símbolo da luta pelos direitos dos animais que os, cada vez menos aficionados, não desistem de abater. Esperava-se que, mais tarde ou mais cedo, a indústria tauromáquica investisse sobre Viana.

Foi este ano que o poderoso lobby das touradas apareceu, com uma proposta da federação Prótoiro para instalação de um redondel provisório em terrenos agrícolas na periferia da cidade, com o propósito de esmagar exemplarmente a vontade da cidade que simbolicamente se ergueu contra a bárbarie.

Esbarraram na firme determinação da Autarquia que indeferiu o pedido, por se manter orgulhosamente como “Cidade anti-touradas” e por rejeição do local de instalação da praça provisória.
Inesperadamente o Tribunal Administrativo de Braga desautorizou a Câmara Municipal e viabilizou a proposta de realização do sanguinário espectáculo. INACREDITÁVEL!!!

E se, no que se refere ao próprio espectáculo, a contraditória legislação que condena a violência sobre os animais … e parece excepcionar as touradas(!), pode admitir a controversa decisão judicial, era bem dispensável a insensível citação da tauromaquia como manifestação cultural equivalente ao teatro e à música.

Inesperada, porém, foi a decisão judicial de autorizar a instalação de uma praça de touros num terreno agrícola junto ao mar! Sem ouvir a Câmara Municipal, nem a Comissão de Coordenação Regional, nem o Instituto Hidrográfico, nem o Instituto de Conservação da Natureza que tutelam aquela área protegida, o Tribunal autorizou a instalação daquela arena de tortura num terreno onde o próprio agricultor não é autorizado a construir um pequeno casebre para guardar os utensílios agrícolas. ESCANDALOSO !!!

Além de um grave atropelo à legislação vigente, o poder judicial desautorizou publicamente a Autarquia de Viana do Castelo e afrontou desnecessariamente a população vianense que, por esmagadora maioria, reprova e rejeita as sanguinárias torturas tauromáquicas.

Afinal, se em Viana não há touros nem toureiros e os escassos aficionados, se existem, apenas precisam de se deslocar duas dezenas de quilómetros para satisfazerem a sua sede (de sangue) de cultura taurina, PORQUE NÃO NOS DEIXAM EM PAZ ???

Porque não deixam os vianenses e os milhares de visitantes fruir alegremente a maior Romaria de Portugal, não manchando a beleza multicolor que a caracteriza com o sangue do sacrifício dos touros inocentes.

É evidente que, na enxurrada da gravíssima crise social que atravessamos, com desemprego, fome e perda de direitos no trabalho, na saúde e na escola pública, este bárbaro atentado aos direitos dos animais é apenas mais um alarmante sinal do retrocesso ético e civilizacional que inunda a nossa sociedade e é preciso denunciar e rejeitar quotidianamente.

Por isso me solidarizo com os vianenses e os amigos dos animais que se vão juntar no domingo, a partir das 16 horas, junto ao Castelo Velho da Praia Norte e na própria Veiga da Areosa, para protestar contra este grave atentado aos direitos dos animais e, simultaneamente, denunciar a escandalosa desautorização dos legítimos representantes autárquicos de Viana do Castelo.

Defensor Moura
17.Agosto.2012


Autarca que criou Viana “anti-touradas” afirma que tribunal “desautorizou” câmara

O ex-autarca Defensor Moura, que aprovou a declaração de Viana do Castelo como cidade “anti-touradas”, vai participar, no domingo, no protesto contra a corrida de touros agendada para o concelho, alegando que o município foi “desautorizado” pelo tribunal.

Em declarações à agência Lusa, o ex-presidente da câmara, que fez aprovar em 2009, apenas com os votos favoráveis do PS, a declaração de cidade “anti-touradas” admitiu que “já se esperava que, mais tarde ou mais cedo, a indústria tauromáquica investisse sobre Viana”.

“Foi este ano que o poderoso lóbi das touradas apareceu, com o propósito de esmagar exemplarmente a vontade da cidade que simbolicamente se ergueu contra a barbárie”, aponta Moura, que concorreu à Presidência da República em 2011.

Segundo Defensor Moura, desde 2008 - data em que se realizou a última tourada na cidade - “ninguém sentiu a falta da tourada” em Viana do Castelo, que “viveu tranquilamente a sua festa maior sem acolher no seu seio o bárbaro espectáculo”.

Acrescenta que a pretensão da federação “Prótoiro”, de realizar a corrida de touros em Areosa, Viana do Castelo, “esbarrou na firme determinação da autarquia” que indeferiu o pedido, diz, “por se manter orgulhosamente como cidade anti-touradas”.

A câmara, agora liderada por José Maria Costa, também do PS, ainda interpôs esta semana um recurso da decisão do tribunal, alegando violação do PDM com a instalação de uma arena amovível em terrenos de “elevador valor paisagístico”, mas ainda é desconhecido qualquer resultado.

“Além de um grave atropelo à legislação vigente, o poder judicial desautorizou publicamente a autarquia de Viana do Castelo e afrontou desnecessariamente a população vianense que, por esmagadora maioria, reprova e rejeita as sanguinárias torturas tauromáquicas”, acusa Defensor Moura.

O ex-autarca, que descreve esta decisão do tribunal como “vergonhosa” e “escandalosa”, insiste que não há tradição tauromáquica na cidade.

“Por isso me solidarizo com os vianenses e os amigos dos animais que se vão juntar no domingo para protestar contra este grave atentado aos direitos dos animais e, simultaneamente, denunciar a escandalosa desautorização dos legítimos representantes autárquicos de Viana do Castelo”, remata Defensor Moura.

Para domingo, dia em que se realiza esta corrida, estão já previstas duas manifestações de defensores dos direitos dos animais.

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