sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Homenagem a Manuel António Pina

Manuel António Pina tinha 68 anos, nasceu no Sabugal, licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Vivia no Porto e foi jornalista do "Jornal de Notícias" durante três décadas.
Morreu esta tarde na cidade do Porto.

Foi nas suas crónicas publicadas no Jornal de Notícias que por diversas vezes demonstrou a sua sensibilidade pela defesa dos animais e a sua total oposição às touradas.
A nossa homenagem a este grande nome da cultura portuguesa, recuperando um belíssimo texto escrito em 2011

Manuel António Pina, jornalista e escritor português, galardoado em 2011 com o Prémio Camões.
(Sabugal, 18 de novembro de 1943 — Porto, 19 de outubro de 2012)
Touradas e coisas piores 
A propósito da anterior crónica (sobre as inclinações "culturais" da Câmara de Vinhais, que decidiu iniciar os seus munícipes nos prazeres "exquis" da brutalidade e tortura pública de animais) escreve-me um leitor dizendo, em abono da tourada, que Hemingway e Picasso gostavam do espectáculo. Não só eles, acrescento eu, e de touradas e coisas piores...

Escritores e artistas raramente são exemplos morais recomendáveis. Céline, escritor maior (mesmo não sendo a literatura um campeonato) que Hemingway, partilhou com Hitler, além do desprezo pelas mulheres, o gosto pela carnificina de judeus, e Picasso, juntamente com as touradas, teve outra devoção não menos sangrenta, Estaline.

A História está cheia de obras sensíveis e generosas, às vezes de grande riqueza moral, realizadas por gente feia, porca, má ou nem por isso. E se o desprezível dr. Destouches, dito Céline, escreveu a admirável "Viagem ao fim da noite" mas também obras imundas e carregadas de ódio, em outras é difícil encontrar traço do ser humano existente por trás delas (quem dirá que por trás da belíssima Catedral de Brasília está um devoto, também ele, de Estaline?)

Não é por Hemingway e Picasso se terem divertido (terem sido capazes disso) com a agonia e morte de um animal que a tourada deixa de ser um espectáculo eticamente condenável. O facto de apreciarem touradas desabona a favor de um e outro, não abona a favor das touradas.

Manuel António Pina

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