Há quem prove diariamente que a valentia e a inteligência são
superiores à força bruta, através da literatura, da filosofia, da
ciência, da tecnologia, da política, da intervenção social.
A
corrida de touros está concebida de forma a que um dos lados esteja
preparado para vencer e o outro condicionado para perder. Não é por
acaso que as praças são redondas, que os cornos são despontados e
embolados, que os toureiros aprendem as técnicas de melhor enganar o
touro, que a música toca, que o público grita, que a sequência e o
tamanho das bandarilhas é precisamente aquele.
Assumindo
que a inteligência é a capacidade de resolver novos problemas, o touro –
o tal animal irracional – é o único que a tem que usar, porque é aquele
que não sabe o que o espera. Se ensinássemos o touro (sim, são capazes
de aprender, como todos os outros animais, através de estímulos
positivos e negativos) a apontar ao corpo e não à muleta, a não reagir
às primeiras agressões e esperar que o torturador se exponha cada vez
mais, a virar a cabeça de lado no momento do encontro com o forcado? E
se, sobretudo, o fizéssemos sem o conhecimento prévio de toureiros e
forcados? Aí o desfecho seria seguramente outro e já não seria “justo”.
Basta
ver os gestos repetidos e as expressões grotescas de triunfo dos
toureiros para perceber o caráter supérfluo, primitivo e inútil da
necessidade de um ritual em que o homem pretende demonstrar a
superioridade sobre um animal. É fácil de perceber que uma coisa destas
ao invés de elevar o homem, bestializa-o.
É ainda
importante considerar a própria pertinência de perpetuar um ritual
primitivo em que, supostamente, se confrontam a inteligência e a força
bruta. Acima de tudo, é um ritual de vaidade, supérfluo e desnecessário.
Alegar que tal confronto é uma das essências da tourada é afirmar que o
homem precisa de provar que é intelectualmente superior a um animal, o
que é verdadeiramente absurdo.
Concluindo: houve
inteligência sim, mas a montante, na construção desta sequência. Mas
sabemos bem do que a inteligência sem empatia é capaz.
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