“Os animais carnívoros, guiados pelo seu instinto de conservação, procuram presa viva que os alimente, dispostos sempre a atacá-la e a matá-la; estão dotados de acometividade permanente e sempre prontos para a luta. As suas faculdades mentais adestram-se nesta forma, tornando-se sagazes, astutos e mestres da caça, por surpresa. Os ruminantes, e entre eles os touros, pelo contrário, têm alimentação herbívora, não necessitam de atacar ninguém, e como isso seria absurdo e na natureza não existem fenómenos desta espécie, o touro não ataca nenhuma espécie de animais, nem o homem. O animal herbívoro só tem que se defender dos carnívoros, e como o touro e os outros ruminantes constituem presas desejadas, dada a sua substância e volume, se as suas faculdades defensivas não fossem tão grandes, careceriam de condições de vida e desapareceriam. Por isso todos os bovinos têm potentíssimas reacções defensivas e são receosos e assustadiços. Tão receosos que já no século XVI D. Diogo Ramirez de Haro observava que o touro pasta, geralmente andando para trás. Espera sempre o ataque, sobretudo quando se encontra isolado da piara ou quando tem de defender a sua prole, que o espera no mesmo sítio, o escolhido para cama. Em tais circunstâncias investe sem reparar na superioridade que possa ter o inimigo, e sempre à cega. Fora disso, os ruminantes são tranquilos, porque essa função, que lhes dá o nome, requer largo repouso depois das comidas, para voltar a mastigar e salivar os alimentos depositados na pança, tornando-se, porém, inquietos quando, ao despertar a primavera, os alimentos abundam e os ardores genésicos aparecem. E assim se explica a habilidade de que usam os toureiros que só começam a tourear depois de Maio.“
Excerto do livro ABC da Tauromaquia de El Terrible Pérez, Edições VIC, 1944
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