«Um dos argumentos frequentemente mencionados em debates sobre touradas é o da importância em manter a espécie do touro bravo. Os proprietários das ganadarias mantêm os touros nos seus terrenos, não porque tenham uma grande consciência ecológica e ambiental, mas porque daí retiram dinheiro. Muito dinheiro. No dia em que os touros deixarem de ser vendidos a 2000 euros cada (sem contar com chorudos subsídios europeus), cerca de 2600 animais por ano (DN, 2007), os proprietários das ganadarias rapidamente se esquecerão de qualquer importância ecológica ou da biodiversidade do touro bravo. É esta a principal, senão a única, verdadeira razão para a continuação das touradas no nosso país - um forte interesse económico de um pequeno grupo de pessoas. É claro que, para desculpar o indesculpável, atiram para os olhos o argumento de se querer proteger uma espécie. Mas nem o touro bravo é uma espécie, porque é sim uma raça ou subespécie, nem a extinção desta raça é irremediável e obrigatória quando as touradas acabarem. A extinção desta raça não é irremediável nem obrigatória porque nada impede a criação parques naturais, santuários ou outras soluções viáveis para a conservação destes animais. O que não pode nunca acontecer é justificarmos a crueldade para com uma animal para o poder "conservar". Cabe na cabeça de alguém que a conservação do panda passe por lhe espetar bandarilhas no dorso? Que o repovoamento do lince ibérico na Península Ibérica passe por lhe cortar as orelhas e rabo? A conservação de espécies / raças, não é argumento para continuar as touradas. É um papel que tem de ser assumido pelos portugueses e pelo Estado e não por empresas que da exploração desses animais retiram avultados lucros. Existe outro argumento frequente, que é o da conservação dos ecossistemas, mas este é ainda mais frágil. É que estamos a falar de um animal totalmente domesticado, que só existe por selecção artificial de características de interesse, que no caso do touro bravo é essencialmente a bravura. Ou seja, o touro bravo não existe no campo por estar em total equilíbrio e conjugação com a Natureza. Está lá porque os ganadeiros assim o fizeram e ali o colocaram. Isto significa que um touro bravo é, no mínimo, um elemento supérfluo na manutenção dos montados portugueses. Voltamos então ao único argumento de peso para a manutenção das touradas. Os interesses económicos. Interesses esses que vivem de um espectáculo que promove a ideia de que existe justiça e igualdade em colocar um animal num local estranho e com regras definidas pelos humanos; que coloca animais numa luta que estes não desejam mas são forçados a entrar; que vive da diabolização da imagem de um herbívoro territorial e faz disso um espectáculo de entretenimento.
É vital rejeitarmos esta visão subversiva da realidade. É preciso dizer que a tourada não é uma fatalidade e que podemos acabar com uma das formas mais indignas e desumanas de tratamento dos animais da actualidade. O caso muito recente de Viana do Castelo dá-nos força e entusiasmo. É vital agora a maioria silenciosa que se opõe às touradas mostrar o seu descontentamento, de forma pró-activa e com um único compromisso: o respeito pelos animais e pela Natureza.»
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