terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Touradas

Afinal, além de se dever respeito aos animais, criaturas sensíveis, também se deve reconhecer o direito às pessoas conscientes e normalmente impressionáveis, de não serem confrontadas com práticas cruéis e de pretenderem que elas não tenham lugar, até para a sua tranquilidade interior.

O Homem, o touro e o cavalo, entre muitas outras espécies, embora possuindo exteriores e aptidões diferentes, são criaturas com grande semelhança nos sentidos, nas necessidades vitais, nas reacções, na busca de segurança, na ânsia por liberdade, nas sensações de ansiedade, medo, susto, fúria, cansaço e esgotamento, dor, nas sensações provocadas por infecção e doença, no sofrimento por morte violenta (abate ou acidente).

Uma observação atenta e a ciência confirmam que a constituição física destas espécies, o funcionamento dos seus organismos e as suas reacções e comportamentos, embora diferentes, são muito comparáveis.

Os animais são dotados de irritabilidade e de sensibilidade. Os estímulos são captados por receptores e transmitidos através de trajectos nervosos a centros nervosos. Todos estes elementos, alem de terem funções comparáveis, são semelhantes nos vertebrados e praticamente análogos dentre os mamíferos, grupo que inclui o Homem, o touro, o cavalo.

Todos os mamíferos experimentam ansiedade, medo, raiva, são atingidos pela dor e detestam de maneira semelhante o sofrimento que esta provoca, quer se trate do Homem, do cavalo ou do touro.

Os esquemas e os funcionamentos são de tal maneira semelhantes, que pode crer-se terem sido eles engendrados pelo mesmo criador (Deus para os criativistas) ou terem sido as espécies originadas a partir de um ser antecedente comum (para os evolucionistas, mutacionistas).

Pele e tecidos subjacentes são sensíveis à dor, logo também a zona da cernelha (zona acima das espáduas) onde são cravadas as farpas pelos «bandarilheiros» em Portugal e Espanha. O mesmo acontece a quando da acção do «picador» e da estocada do «matador» em Espanha e, contra a lei portuguesa, em Barrancos de Portugal.

Grandes diferenças residem, principalmente, na menor inteligência dos animais e na sua incapacidade de se organizarem e se queixarem por palavras perante o Homem.

Qualquer pessoa com alguma informação e compreensão reconhecerá, visto que, certamente, detesta a sua própria dor e sofrimento, que aquilo que os protagonistas centrais de cada tourada, o touro e o cavalo, têm que suportar na lide é uma tortura.

Touro

O touro é retirado da vida na natureza em companhia da manada e logo privado da liberdade da campina, metido violentamente e apertado em gaiolas minúsculas, transportado em pânico, claustrofobia, fúria e luta até à praça.
Por vezes é sujeito, sem anestesia, ao corte da ponta dos cornos em zona viva, enervada e dolorosa, para que se iniba de marrar com violência.
Por vezes é-lhe aplicada pomada ou pó nos olhos para provocar irritação nesses órgãos e lhe diminuir concentração e visão.
Muitas vezes é agredido antes da tourada com choques por aguilhão eléctrico nos testículos, para o fazer irromper na arena aparentando ser braviamente perigoso, mas, na realidade, saltando de susto e de dor.
A seguir, na lide, é provocado, enfurecido, ferido por farpas, magoado, cansado até o esgotamento e, em Barrancos de Portugal, até é morto por estocada (ou várias estocadas até acertar);

Findada a lide é levado para o matadouro, estafado e com feridas dolorosas a infectarem-se e a fazê-lo adoecer, até que o abate, oxalá que rápido, o liberte de tanto sofrimento. Se for na Ilha Terceira dos Açores, o touro poderá ser «recuperado» para vir a ser usado mais tarde em corridas à corda, forte tradição naquela ilha.

Cavalo

Um cavalo de lide tem que enfrentar stress e risco de ferimento e de morte.
O cavalo é um ser que, quando se sente ameaçado, busca instintivamente a sua segurança e sobrevivência na fuga ou no pôr-se a uma distância que considere suficiente para escapar ao perigo.
Ele consegue realizar a fuga com relativa velocidade e aguenta-a com bastante resistência por distâncias consideráveis.
Quando a causa ameaçadora ou algo estranho se encontra próximo e, também, quando outros motivos intervêm (luta entre garanhões disputando éguas, da égua quando não aceita o garanhão, da égua em defesa do potro, de uns e outros por ciúme, em disputa da ração, para escorraçar um intruso, etc.) poderá utilizar o coice das patas traseiras ou, ainda, a sapatada com o membro anterior e a dentada. Mas não é temerário a ponto de se dispor por livre vontade a enfrentar um touro de perto, mesmo possuindo alguma coragem. Pode, quando muito, se for jovem, se estiver eufórico e cheio de energia, dar umas corridas de provocação, fazer umas fintas, empinar-se e escoicear, mas sempre a uma distância relativamente prudente.
O cavalo tem que ser forçado pelo cavaleiro, com maior ou menor violência, por acção de esporas e outras, a aproximar-se do touro, contra o seu medo natural.
E mesmo sendo cuidadosamente treinado, o que sucederá com uso de menor ou maior violência, ele estará sempre sujeito a um forte stress emocional.
A situação de confronto com o touro, alem de envolver um risco real de toque ou de colhida com ferimento e dor e até de morte, nunca vai dar prazer ao cavalo.
Esta estrela à força do toureio a cavalo é um sacrificado e arrisca muito.
Se houver verdadeira amizade e respeito do cavaleiro para com o seu cavalo, ela é certamente estranha e eivada de muito egoísmo, pois não se obriga um amigo a suportar tanto stress e a correr tamanho risco.

Pensa que se deve aceitar este sacrifício dos cavalos ou preferia que ele não acontecesse? Então queira manifestar-se!


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