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terça-feira, 26 de julho de 2016

O Negócio das praças de Touros

A realidade da tauromaquia na região num périplo pelas praças de touros, onde há mais prejuízo do que lucro. A rentabilidade das corridas está longe dos seus tempos áureos, também por culpa da crise.
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Sílvia Agostinho25-07-2016 às 20:06
O empresário Rafael Vilhais pegou na praça de Touros de Salvaterra de Magos há escassos meses. Natural de Samora Correia diz que foi quase obrigado a ficar com a praça de Salvaterra, propriedade da Santa Casa da Misericórdia local. Muitas direções e empresários têm passado pelo espaço, mas sem sucesso, e com muita polémica à mistura. A praça de Salvaterra não é das mais fáceis. Chama algum público mas não tem o estatuto do Campo Pequeno ou da Palha Blanco em Vila Franca de Xira. Rafael Vilhais quer contrariar essa tese, e por isso vai apostar forte na vinda de um dos toureiros sensação em todo o mundo na corrida de 29 de julho, o peruano Andrés Roca Rey.

Centenária, esta praça é já de si icónica por ter sido realizada ali a última corrida real. O seu estado de conservação é aceitável para os anos que tem, contudo o empresário salienta que quando chegou teve de fazer obras, principalmente algumas pinturas.

Também gestor das praças de Beja e das Caldas da Rainha, refere que não estava nos seus planos o equipamento salvaterrense. “A Misericórdia é que me empurrou para este projeto porque esta praça teve uma má gestão, e outros que por cá passaram não fizeram um bom trabalho sem dúvida nenhuma”, atira. A praça de Salvaterra já cumpre o decreto - lei de 89/2014 que obriga este tipo de equipamentos a adaptarem-se a uma legislação ainda mais apertada, nomeadamente, com a instalação de curros devidamente adaptados. “Essas obras foram realizadas pela Santa Casa, sou apenas inquilino”, refere salientando ainda “a relação salutar com a entidade proprietária”.

“Uma das coisas que me pedem é que honre os meus compromissos com os artistas, com os toureiros, e até bombeiros e coletividades, que foi algo que nem sempre se teve em linha de conta”, aponta para se referir ao facto de no passado alguns dos artistas terem ficado sem receber o cachet acordado. “As várias administrações, que não a Santa Casa, queimaram a praça de touros”, alude. Para Rafael Vilhais, o equipamento tem boas condições “temos é de atrair bons artistas para trazer pessoas à praça”. A praça de Salvaterra tem uma lotação para 3400 pessoas, “o desejável seriam 4 mil lugares”. Com as novas exigências legais o equipamento teve de sofrer obras e reduzir o número de lugares. Nesta praça, e com uma lotação esgotada o empresário acredita que consiga faturar cerca de 75 a 80 mil euros por corrida, sendo que o lucro é sempre relativo. No caso da corrida de 29 de julho, e tendo como cabeça de cartaz um dos nomes do momento, uma fatia considerável do que se angariar será para pagar ao novo fenómeno do toureio apeado. 

Tal como em outras localidades ribatejanas, a afición de Salvaterra pede para que os artistas da terra também sejam incluídos nos cartéis das corridas que se vão organizando. Ana Baptista é o nome mais sonante da terra, e Rafael Vilhais acha que com todo o direito – “Uma é coisa é pedirem para que pessoas que não têm qualidade sejam convidadas; outra coisa é a Ana Baptista que anda bastante bem e que merece integrar o cartel”, e por isso é um dos nomes destacados para a corrida de 29 de julho. “Estou muito confiante que a praça vai esgotar nesse dia, principalmente devido ao Roca Rey. Disso não tenho dúvidas”.
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Rafael Vilhais aposta forte no sucesso da corrida de 29 de julho
As cunhas e as ditas “trocas” de artistas entre os empresários do mundo taurino é o que na opinião de alguns críticos ouvidos pelo Valor Local tem prejudicado o crescimento da arte no país e na região. São sempre os mesmos a aparecerem. Poucos artistas novos conseguem singrar. E se quisermos ir mais além e de uma forma mais perversa há também quem pague para andar na ribalta porque as famílias têm dinheiro. Rafael Vilhais assume que parte do quadro descrito acontece e até usa a expressão “colmeia” para se referir às ditas trocas. “Isso não é bom, mas acontece. Eu sou apoderado, e coloco os meus artistas em determinada corrida, e outro empresário faz o mesmo”, assume, mas defende-se: “Pode haver quem não tenha talento para figurar em determinados cartéis mas o que se passa efetivamente é que ainda não apareceu aquela figura que se destaca acima de todas outras. Quando isso acontecer vai triunfar. Andam aí filhos de toureiros que ainda não provaram que são melhores do que os pais. De uma forma ou de outra todos os que conheço tiveram oportunidades mas uns souberam agarrar e outros não”. E conclui – “Pode haver trocas e baldrocas mas certo é que se vive uma crise de novos toureiros”.

A praça de touros de Salvaterra que tem passado, de acordo com os seus responsáveis, por gestões difíceis procura agora uma nova fase da sua existência. A aposta forte no espetáculo agendado para o fim do mês será uma prova de fogo para o empresário. A Santa Casa da Misericórdia de Salvaterra, através do seu diretor José António Luís também está confiante no futuro e não esconde que as expetativas neste momento “são enormes” quanto ao que se espera venha a ser uma gestão de sucesso do equipamento. A venda deste património nunca esteve em cima da mesa. Quer a entidade proprietária quer o empresário recusaram-se a dar, ao nosso jornal, o valor da renda que Rafael Vilhais tem de pagar mensal ou anualmente à Santa Casa. Esta entidade limita-se a dizer que está satisfeita com o acordo obtido.

​​Nos seus planos para esta praça, Rafael Vilhais conta que espera realizar duas grandes corridas por ano, e mais uma novilhada, apostando na qualidade, em detrimento da quantidade, “até porque o momento económico do país ainda não permite que se possa ir mais além”. Atualmente, o empresário cobra no mínimo 15 euros de entrada na praça de Salvaterra, e ao contrário de alguns críticos tauromáquicos e empresários do ramo, não defende uma baixa de preços, “porque estamos a falar de um espetáculo que ainda custa o seu dinheiro, e se formos a ver não temos aquele acréscimo de público tão espetacular como se pensa se colocarmos o bilhete a cinco euros”. “Dessa forma estaríamos a retirar categoria ao espetáculo. Quanto muito podemos ter um setor com bilhetes mais baratos”, opina.

Natural do concelho vizinho, Rafael Vilhais diz ter o sonho de um dia ainda se poder construir uma praça em alvenaria na localidade de Samora Correia, onde a afición é muita, “com um bairrismo parecido com o de Azambuja”. “Esteve para avançar, mas como entretanto deixou de haver ajudas comunitárias, perdeu-se essa ideia, mas ainda não perdi a esperança”.
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foto Hélder Dias
ImagemO empresário fala de uma afición difícil
​ Empresário da Palha Blanco:
“Público de Vila Franca é o mais exigente do país”

O empresário Paulo Pessoa de Carvalho gere a praça de Vila Franca de Xira desde 2015. Sendo possível que se mantenha até 2017 se for vontade do empresário e da entidade proprietária- a Santa Casa da Misericórdia local. “Esta é uma relação que tem estado a correr bem. Sabemos que não podemos entrar em loucuras porque em termos económicos as pessoas já não aderem tanto à tourada. Tentam conter-se o mais possível”.

Este empresário não poupa nos elogios ao profissionalismo da entidade proprietária, nomeadamente, “no brio que tem” no que concerne às condições do equipamento, cuja cereja no topo do bolo é a enfermaria que tem à frente o cirurgião Luís Ramos, “um dos melhores médicos da Península Ibérica”, dotada de “condições excelentes”. “A praça de touros é cuidada de forma exímia pela Santa Casa” que naturalmente já se encontra adaptada à nova lei. O empresário que também gere as praças de Almeirim e da Chamusca, igualmente detidas pelas santas casas locais, não tem dúvidas em salientar que prefere gerir equipamentos desta natureza não pertencentes a Câmaras, “onde por vezes se anda ao sabor dos diferentes partidos, e dos seus interesses”. “Nas instituições como as santas casas, mesmo que a direção mude, a filosofia de gestão não se altera muito, é mais institucional, e as regras não mudam. A gestão é mais pura e dura”.

No que se refere aos lucros, “não são os desejáveis nem para mim nem para a Santa Casa. Estamos sempre aquém. Mas posso dizer que as coisas não estão a correr mal face às minhas expetativas”. O empresário, a par do de Azambuja, foi o único neste trabalho que não teve problemas em avançar com o valor da renda que todos os anos entrega à Santa Casa: 17 mil euros mais Iva.

O empresário das Caldas da Rainha refere que encontrou um público difícil em Vila Franca, muito opinativo e crítico, que nem sempre vai às corridas. “Percebemos que as pessoas escolhem muito bem as praças onde querem ir. Por outro lado, a conjuntura nacional também nos afeta”. Vender os preços dos bilhetes a preços mais económicos, na ordem dos cinco euros, como alguns defendem não é visto como solução, “visto não se traduzir como mais compensatório”. O valor mínimo cobrado em Vila Franca é de 12,5 euros. Com praça esgotada, consegue no máximo chegar a uma faturação a rondar os 90 mil euros.

Para Paulo Pessoa de Carvalho, a praça de Vila Franca é um desafio, “porque foi sempre uma praça séria. A empresa que esteve antes de mim fez ali um bom trabalho”. Por outro lado, o desafio é também a afición que lhe é inerente: “a mais exigente de Portugal, e isso nem sempre se traduz em público”. Nestas duas temporadas que leva de Palha Blanco, o empresário desabafa- “Ali já tive alegrias, sofri e transpirei. Já me trataram mal, e dirigiram-me impropérios. E algumas vezes tive que me calar, encolher os ombros, e ouvir com a maior das descontrações”. As críticas normalmente vão desde “a má apresentação do touro até ao desempenho dos artistas”. “Em Vila Franca qualquer coisa serve para ralharem connosco, quando tudo corre bem, e não nos dizem nada, então é sinal que correu mesmo tudo bem”.

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foto Ricardo Caetano
​A Palha Blanco tem uma lotação de 3500 lugares, com quatro corridas principais por ano, duas no Colete Encarnado e duas na Feira de Outubro. Um dos itens do caderno de encargos do contrato com a Santa Casa constam as corridas com toureio a pé em que a cidade tem tradição. “Por vezes não é fácil encontrar nomes, mas faz parte e isso significa defender as raízes da terra”. Neste aspeto há que contratar fora do país: “Comercialmente o toureio a pé não funciona. Apenas com nomes espanhóis. O toureio ficou órfão de Pedrito de Portugal que de facto tinha uma mística, mas ainda assim não tinha o toureio profundo dos espanhóis”.

Questionado sobre a dificuldade de se ser empresário neste meio, garante que já pensou muitas vezes em desistir, até porque o setor é pouco unido. “Cada vez que nós trabalhamos, e nos pomos empenhadamente a fazer as coisas, esperamos o mínimo de retorno financeiro,  mas muitas vezes no final temos de ir inventar dinheiro onde ele não há. Só mesmo um maluco é que paga para trabalhar”. Por outro lado, “há empresários que estão neste meio, porque acham piada, por brincadeira, e este é mundo muito difícil”.

A rentabilidade das praças de touros também pode passar por outro género de espetáculos, nomeadamente, musicais. Esta foi uma vertente que explorou enquanto esteve à frente da praça das Caldas. No caso da Palha Blanco vai receber em breve um espetáculo de José Cid.

Já no que às ditas “trocas”, refere que há cavaleiros melhores e piores, “mas nas bilheteiras valem todos o mesmo”. “Um cavaleiro tem todo o direito de pedir sete ou mil euros, mas a verdade é que esse toureiro, normalmente, vale quase tanto como um que vá lá por mil”. Como não há um nome sonante, “isso torna tudo mais difícil”. As “trocas” são algo “que limita bastante o trabalho. “Esta moda dos empresários apoderados tem sido algo complicado, em que essa pessoa só compra o meu toureiro se eu comprar o dele”. “Trata-se de uma grande promiscuidade, que é difícil para o empresário”, não tem dúvidas. No seu caso não é apoderado atualmente de nenhum toureiro. Paulo Pessoa de Carvalho não considera que esta forma de estar nos bastidores das touradas seja limitativa do aparecimento de novos valores, “porque quem tem de romper, rompe!”, mas não deixa de ser verdade “que muitas jovens figuras vão aparecendo não tanto pelo seu talento, mas por circunstâncias económicas que geram essas oportunidades”. E ilustra o quadro – “Por vezes esse toureiro não é grande coisa e anda-se ali numa grande mentira, com o apoderado a tecer elogios que não têm nada a ver”. “Antes as pessoas apareciam claramente por mérito, mas hoje desvirtuou-se essa realidade, que no fim de contas descredibiliza a festa”. Por outro lado, alguns toureiros “recusam-se a pegar touros mais imprevisíveis como os da ganadaria Palha”, ilustra para definir a crise de talento e empenho.

A nova lei que regula a atividade taurina no entender do empresário enferma de um grave problema tendo em conta que na sua feitura, o anterior Governo decidiu ouvir os movimentos antitaurinos, “o que não faz sentido”. “Não quer dizer que quem não goste da atividade taurina não possa opinar sobre a regulamentação da atividade, pois pode ter uma palavra a dizer pela sua experiência, o que não pode acontecer é que que quem queira matar a atividade tenha o direito de vir dizer alguma coisa”.

 
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Azambuja: A praça Maldita

Inaugurada em 2011, a nova praça de touros de Azambuja ainda hoje dá que falar. Fruto de uma opção política do anterior presidente da Câmara contestada politicamente e pela população tendo em conta que foi preterida a remodelação das piscinas a favor da construção da praça, que apenas recebe uma corrida por ano, e que apesar de ter uma lotação modesta para 2000 lugares não chega a encher.

O empresário que se encontra a gerir a praça de Azambuja desde há dois anos, José Luís Zambujeiro não esconde que se encontra desolado com a forma como está a correr esta experiência. Apesar de apenas pagar uma renda anual de dois mil euros à Câmara, que por sua vez a canaliza para a Poisada do Campino que funciona como intermediário nesta gestão, o empresário diz que tal verba já faz mossa tendo em conta a fraca rentabilidade do equipamento.

“Tenho montado uns cartéis fortes com touros a sério, mas que não se traduz nas bilheteiras. Azambuja tem muita afición mas de boca”. O empresário não nega que acabou por ser um pouco iludido pelo clima vibrante que se vive nas largadas da Feira de Maio em que a adesão da população enche o olho, mas “essa afición não é transportada para o interior da praça de touros”.

No primeiro ano em Azambuja, José Luís Zambujeiro fez uma corrida e uma novilhada no final da época, “sem conseguir esgotar a praça” e diz mesmo que se conseguisse pelo menos encher três quartos da praça na Feira de Maio já ficava contente. O máximo que se consegue vender nesta praça são mil bilhetes. Na Feira de Maio de 2016, “a bilheteira continuou a revelar-se como escassa”, e como tal “é complicado pagarmos as despesas inerentes à corrida”. “Houve prejuízo”, desabafa.

Em Azambuja, o público considera que um bilhete de 15 euros, “é demasiado caro, quando no fundo é aceitável e normal para uma corrida de touros”. “Tenho pena que assim seja”. Refere que a estratégia não pode passar por preços mais baratos, porque os lugares na praça são poucos, e montar uma corrida em Azambuja custa à volta de 30 mil euros. “Com cinco euros podíamos esgotar duas praças em Azambuja que não dava para pagarmos os custos”.

Ano após ano vem à baila o facto de a corrida da Feira de Maio não incluir as figuras da terra, pedidas pela população, nomeadamente o nome de Ana Rita, mas neste aspeto o empresário reforça que a cavaleira toureia muito pouco, e principalmente em Espanha.

Muito falada tem sido a questão de se rentabilizar esta praça com outro género de espetáculos. Já aconteceram alguns concertos mas levados a efeito pela Poisada do Campino “que no fundo gere a praça”. Esta é uma área que o empresário não domina. Zambujeiro que já foi forcado lamenta a fraca rentabilidade da praça de Azambuja, “apesar de ter uma relação belíssima com todos os intervenientes desde a Câmara à Poisada do Campino”.

Por tudo isto, ainda se encontra a ponderar se quer ficar ou não com a praça para o ano. “O grande problema é que durante muitos anos a Câmara ofereceu bilhetes às pessoas e essa cultura de se ir ver touradas a custo zero ainda se encontra instalada”. Como os tempos hoje são outros e a autarquia não pode assumir esse custo, a festa  em Azambuja é uma sombra do que foi.

Também outros empresários ouvidos nesta reportagem que estiveram à frente da gestão das corridas da praça de Azambuja falam da dificuldade em obter boas bilheteiras neste equipamento. Paulo Pessoa de Carvalho refere que as condições físicas da praça são simpáticas, mas prejuízo rima mesmo com Azambuja. “A experiência não foi motivadora, o público não aderiu, apesar de o caderno de encargos da Câmara ser acessível”. Já a relação com a Poisada do Campino “não foi boa nem má, foi só uma relação”, refere o empresário sem querer entrar em mais detalhes.

Ouvido pela nossa reportagem, o presidente da Câmara, Luís de Sousa, refere que está preocupado com a fraca rentabilidade e aproveitamento, alegando mesmo que quando alguma coletividade lhe pede um espaço para fazer determinado evento, oferece como primeira sugestão a praça de touros. “Contudo não tem havido muita recetividade”.
Luís de Sousa não hesita em dizer que o empresário “já se lamentou bastante”, até porque “perdeu ali bastante dinheiro”, simplesmente “porque as pessoas não aderem”.

A gestão da Poisada do Campino tem sido questionada ao longo dos anos, e por vezes imbuída de alguma polémica. Neste aspeto, o presidente da Câmara refere que a atividade da associação “é monitorizada”. “Têm de nos apresentar relatórios e só a partir daí é que lhes atribuímos os subsídios”.
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Empresário de Arruda também fala da crise de novos valores
ImagemObras exteriores em curso
Praça de Arruda grita urgentemente por obras

​O ganadero e empresário Jorge de Carvalho tem explorado a praça de touros de Arruda nos últimos anos através do Clube Tauromáquico Arrudense do qual é presidente. O contrato com a Câmara que é a proprietária termina em 2017. Neste momento, a praça está em obras exteriores e segundo o empresário não necessita de se adequar ao novo regulamento do espetáculo tauromáquico por se enquadrar como praça de terceira.

Contudo Jorge de Carvalho não tem dúvidas de que necessitaria de “uma grande remodelação interior”. A praça leva duas mil pessoas. “Não é muito confortável e os curros estão a necessitar de uma completa transformação”. Segundo o empresário seria possível aumentar a lotação para quatro mil lugares, contudo não esconde que a Câmara não tem meios para o fazer atualmente e a afición de Arruda também não justifica. “Só com quatro mil lugares é que consegue esgotar uma praça. Só nestes casos é que é possível trazer um Ventura ou um Hermoso, atraindo público dos vários concelhos”. Com dois mil lugares apenas se vai lá com cartéis mais modestos, “e sem viabilidade”.

Em tempos mais favoráveis houve um projeto para ampliação da praça, “mas com a implantação do quartel da GNR que era para ser só provisório mesmo encostado ao equipamento” esse sonho acabou por ficar pelo caminho. “Queríamos que aí ficasse um apoio à tertúlia e à praça mas isso foi comprometido”.

Para o empresário de Arruda dos Vinhos, o futuro da praça de Arruda passará também pela realização de pequenos espetáculos tauromáquicos. Estando agendada uma parceria com a Câmara de Arruda para algumas iniciativas durante as festas. O empresário já fez seis corridas na praça por ano, mas este ano fará apenas uma corrida e uma novilhada. Jorge de Carvalho prefere não adiantar qual o valor máximo de bilheteira, mas no mínimo os seus bilhetes rondam os 15 a 20 euros. Apesar das poucas condições da praça, gosta de apostar em nomes mais sonantes, “porque se formos por toureiros de pouca monta as pessoas não aderem”.

Quando se fala em crise de valores no mundo da tauromaquia a nível dos cartéis, o empresário tem uma opinião muito vincada – “O problema é que certos cavaleiros se recusam a tourear os animais na sua plenitude. Primeiro metem lá os seus bandarilheiros que vão deixando o animal cada vez mais cansado, facilitando a lide dos toureiros, e isso vai fazendo com que as pessoas se desliguem das touradas e com razão”.

O presidente da Câmara Municipal, André Rijo, está consciente das dificuldades desta praça, e como tal o empresário não tem de pagar qualquer renda ao município, questão sobre a qual o mesmo não se quis comprometer aquando da nossa reportagem. Em 2014/2015 a renda foi de 500 euros. “Já tive muitos prejuízos com esta praça”, alega o empresário.
O equipamento não tem algumas condições básicas como casas de banho, recorrendo-se a casas de banho móveis em altura de corridas. Sendo certo que a praça de Arruda grita urgentemente por obras, a Câmara operou algumas intervenções nos curros e nas enfermarias, a par do embelezamento exterior de que está a ser alvo.

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Muita prata da casa na gestão da Praça do Cartaxo

A Câmara Municipal do Cartaxo entregou a gestão da praça de touros local, este ano, ao Grupo de Forcados do Cartaxo, depois de o equipamento ter estado nas mãos de outra coletividade do concelho, “As Gentes do Cartaxo” que por opção não quis ficar com a praça. O vice-presidente dos forcados, Fábio Beijinho, refere que o grupo tem apostado em diversos espetáculos que incluem não só as típicas corridas mas outros eventos que de alguma forma tentam ir ao encontro dos gostos da afición, como convívios taurinos.

A praça do Cartaxo também se encontra em fase de adaptação à nova lei cujo prazo termina em agosto. No total são quatro mil euros que o município se prepara para investir no local, e que face aos constrangimentos financeiros da autarquia se trata mais uma vez de um investimento que não deixará de ser difícil para o município. A jaula de embolação vai ter de ser substituída. A Câmara estará a tentar embaratecer custos recorrendo a mão-de-obra da própria autarquia.

O grupo de forcados do Cartaxo possui uma parceria com um empresário que ajuda na colocação dos cartéis na praça cartaxeira, e não esconde que a tarefa de gestão do equipamento não deixa de ser um desafio para os mesmos. Desde pinturas a pequenos arranjos que a praça tem necessitado, é o grupo de forcados que deita mãos à obra com recurso à prata da casa com a ajuda de um ou outro patrocinador que vai aparecendo. “Pintámos a trincheira toda, substituímos as madeiras, entre outros trabalhos”. Este ano também foram efetuadas obras nas galerias que se encontravam interditas. Em abril foi feita uma vistoria que recebeu aprovação. “Temos orgulho em que a praça fique vistosa”, realça Fábio Beijinho.

A praça vai receber uma corrida em novembro, estando a ser equacionada outra na altura das vindimas. “Vamos fazer também mais algumas brincadeiras abertas ao público”, ao estilo de garraiadas. Este mês de julho foi levada a efeito uma picaria noturna. No que toca aos cartéis, a praça do Cartaxo não tem atualmente condições para trazer grandes nomes da tauromaquia, mas Fábio Beijinho refere que por agora “há que ir com tempo e com calma”. “Gerir uma praça dá muitas dores de cabeça, mas somos novos e com gosto vamos conseguindo”.

Para Pedro Ribeiro, presidente da Câmara, a parceria com o grupo de forcados está a correr bem. Foi transmitido pela anterior gestão que não havia vontade nem interesse em continuar, mas o autarca prefere não escalpelizar outros motivos. O presidente da Camara está consciente da dificuldade do grupo de forcados, que por comparação pode não ter o mesmo poderio de determinados empresários para trazer nomes mais sonantes, mas ainda assim considera que o grupo tem trazido cartéis dignificantes. “A nossa associação tem feito um trabalho extraordinário, e está sempre empenhada em angariar verbas para conseguirem sustentar a sua atividade”.

O presidente da Câmara recusa a falar em eventuais prejuízos neste equipamento que segundo o que apurámos tem despesas a rondar os 30 mil euros por cada corrida. “Estamos a falar de um equipamento público. Obviamente que este tipo de espaços dificilmente pode dar lucro tal como as piscinas e o centro cultural. Se o nosso objetivo fosse o lucro, então só trabalhávamos as coisas para os ricos”. No caso da praça de touros, “tentamos que a sua gestão seja o mais sustentável possível”.


Fonte: Valor Local

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Touros de Morte!


Este texto do professor Luís Vicente foi eliminado da sua cronologia devido a uma denúncia.

Segue o texto: [link]

Hoje um post de uma senhora de Alcochete em defesa das touradas irritou-me o suficiente para lhe responder com o que abaixo transcrevo:

Cara Senhora Mestre em Psicologia Inês Pinto Tavares,

Sabe o que é racismo? Racismo é a senhora ser caucasiana e considerar negros, judeus, palestinianos, asiáticos, etc, seres inferiores. Sendo seres inferiores considerava-se, não há muitos anos, que não tinham alma e, portanto, podiam ser mortos em campos de concentração ou noutros processos genocidas.
A isso chamou-se no século XX, NAZISMO.

Por generalização, o ESPECIÍSMO é uma extensão e um corolário do nazismo. É portanto uma forma de nazismo. É considerar que os outros animais, cães, gatos, porcos, touros, burros, etc. não têm alma e que, portanto, podem ser mortos. É rigorosamente a mesma coisa: NAZISMO, FASCISMO!!!!!

Chamemos as coisas pelo nome!
Pessoas congratularem-se com a tortura pública de um outro animal é um sentimento baixo (no caso que a senhora tanto aprecia, um touro), reles, primitivo, repugnante, NAZI. Nem se trata de matar um ser vivo numa situação de fome para comer, trata-se de torturar e matar por puro prazer. Se a senhora tivesse vivido no século XVI, XVII ou XVIII, certamente que se divertiria com os Autos de Fé no Rossio em que pessoas eram queimadas na fogueira. Talvez tivesse um imenso prazer na matança dos cristãos-novos. Se tivesse vivido na antiga Roma, muito se divertiria com os cristãos lançados aos leões para gáudio da população.

Enfim, estudou Psicologia na universidade onde sou professor, fez um mestrado em Psicologia Comunitária e Protecção de Menores. Provavelmente não aprendeu nada. Foi uma perda de tempo.
Sabe o que são neurotransmissores? Sabe o que é cortisol? Sabe o que é oxitocina? Sabe o que é serotonina? Conhece a anatomia do encéfalo?

Sabe que numa tomografia de emissão de positrões as áreas do encéfalo afectadas pelo sofrimento num touro, num rato, num cão ou num humano são rigorosamente as mesmas?
Sabe que as variações químicas no encéfalo são rigorosamente as mesmas em situações de prazer ou de dor em qualquer dos animais referidos, incluindo os humanos?

Se a senhora aprendeu alguma coisa sobre ciência e método científico o que é que deduz sobre o sofrimento do touro na arena?
Não vale a pena explicar-lhe, pois não?

Também deve pensar que Deus colocou o homem no centro do universo à sua imagem e semelhança logo abaixo dos anjos. Sabe, o meu Deus não é o seu. O meu Deus é infinitamente bondoso e misericordioso. Não pactua com os crimes que tanto prazer lhe dão a si. Não se compadece com pessoas que, da mesma forma que o louva-a-deus, rezam antes de matar.

Quer que eu tenha mais pena de um assassino do que de um touro que é torturado até à morte com requintes de malvadez? Lamento mas não tenho. Entre o assassino e o touro, de caras que escolho o touro.

Divirta-se nas suas touradas, divirta-se nos autos de fé no Rossio, divirta-se na praça da revolução em Paris enquanto cabeças dos guilhotinados rolam para um cesto de serradura, divirta-se nos circos romanos, divirta-se nos fornos crematórios de Auschwitz, divirta-se com a morte e o sofrimento dos outros, seja cúmplice!!!
Tenho a certeza absoluta que a senhora é incapaz, pelas suas limitações cognitivas, de compreender aquilo que estou a escrever. Não é certamente. Por isso perco o meu tempo.

Enfim, só lhe envio esta mensagem porque a senhora me tirou o sono.

Faça o favor de ser feliz com as suas mãos conspurcadas de sangue alheio!"


terça-feira, 25 de agosto de 2015

Testemunho Real!



 Palabras de un técnico de sonido de televisión que hacía las retransmisiones de toros...

"En mi caso, que me ha tocado llevar el sonido en alguna retransmisión, siempre he comentado, que si en lugar de la mezcla de sonido de la banda de música, aplausos, bravos, olessss y demás... el sonido fuera el que capta el Sennheiser 816 (micrófono que capta a gran distancia y buena calidad) a pie de ruedo, donde se escucha perfectamente el sonido de la banderillas al entrar en la piel, los mugidos de dolor que da el animal a cada tortura a la que se somete... y además lo acompañáramos de primeros planos de las heridas que lleva, de los coágulos como la palma de una mano, de la sangre que le brota acompasada al latir del corazón o la mirada que pone en animal antes de que le den la estocada final, creo que el 90% apagaría el televisor al presenciar semejante carnicería a ritmo de pasodoble.

Yo, personalmente pedí el dejar de hacer ese tipo de trabajo, precisamente un día que en Castellón me tocó estar en el callejón y me cabreé mucho al escuchar a un toro, al cual el torero falló cuatro veces con el estoque y harto de escuchar al pobre animal me quité los auriculares... No tuve bastante, que mientras agonizaba, escupía, se ahogaba en su sangre, se vino a morir justo pegado a mi, apoyado sobre las maderas mientras daba pasmos y su mirada ensangrentada y con lágrimas, sí lágrimas, sean o no sean de dolor, se cruzó con la mía y no nos la perdimos hasta que un inútil .... falló dos veces con el descabello, al que le dije de todo.

Ahí acabó mi temporada torera de por vida.

Son sentimientos personales y lo mas probable es que a un amante de "la fiesta" le parezca ridículo, pero para mi, más ridículo es cuando después de semejante carnicería, giras la vista al público y los ves allí aplaudiendo, comiendo su bocata sin inmutarse, ni habiendo visto y oído lo que yo."

 Jose Sepúlveda Sepul



"Anonymous Defensa Animal España"
"El técnico de sonido del viral antitaurino: "Es una bestialidad, que lo soporte el que pueda" - El Huffington Post"
"El viral testimonio de un técnico de sonido sobre las corridas de toros - El Huffington Post"
"LA VOZ DE GALICIA"


"La memoria del llanto, un artículo contra los toros del periodista y escritor Francesc González Ledesma, publicado en el diario El País en marzo de 2010."



«Testemunho de um Técnico de Som sobre a Barbárie Tauromáquica

Jose Sepúlveda, técnico de som do Canal Nou e que durante algum tempo trabalhou na transmissão de touradas decidiu relatar aquilo que viu e ouviu durante estas emissões. A imagem inserida no texto é apenas para ilustração do artigo.

Sempre que trabalhei na parte sonora das transmissões frequentemente comentava que se em lugar da banda de música, dos aplausos, dos bravos, dos olés e etc o som fosse captado pelo Sennheiser 816 (microfone que capta a grande distância e com muita qualidade) perto da arena onde se escuta perfeitamente o som das bandarilhas a entrar na pele, os mugidos de dor do animal a cada tortura que é submetido e além disso as pessoas acompanhassem os primeiros planos das feridas, dos coágulos tão grandes com a palma da mão, do sangue que jorra, do bater do coração ou o olhar do animal antes da estocada final 90% desligaria a televisão ao presenciar tamanha chacina ao ritmo de pasodoble.

Eu pessoalmente pedi para deixar de fazer esse tipo de trabalho, porque um dia em Castellón, tocou-me estar entre barreiras e fiquei muito incomodado ao escutar um touro depois do toureiro ter falhado por quatro vezes a estocada e tive que tirar os auscultadores e o animal agonizava, cuspia, afogava-se no seu sangue vindo morrer mesmo ao pé de mim apoiado na madeira e o seu olhar ensanguentado e com lágrimas, sim lágrimas, sejam ou não sejam de dor cruzou-se com o meu até que um inútil falhou duas vezes o descabelo e eu disse-lhe tudo e mais alguma coisa.

Foi aí que terminou o meu trabalho em praças de touros para toda a vida.

São sentimentos pessoais e o mais provável é que um amante da “fiesta” ache ridículo, mas para mim ridículo é quando depois de semelhante carnificina olhas para o público e vês que aplaude, come sandes sem qualquer preocupação não tendo visto nem ouvido o que eu testemunhei”.

Excelente testemunho que retrata a verdade sobre um espectáculo que é brutalmente bárbaro e cruel e que tem que ser erradicado.

Prótouro
Pelos touros em liberdade

terça-feira, 28 de julho de 2015

ESPANHA: CINCO CIDADES CANCELAM TOURADAS E OUTRAS SEGUIRÃO ESTE CAMINHO


Os municípios de Corunha, Gandía, Mancor de la Vall, Pinto e Azira decidiram suspender corridas e outros eventos ligados à tauromaquia previstos para esta época, mesmo que eles tivesse já sido contratualizados há dias ou meses.

Segundo o site 20 Minutos, muitos destes eventos tinham sido acordados entre os empresários e as autarquias antes das eleições de Maio. No entanto, muitos dos programas eleitorais previam o cancelamento destes eventos, pelo que os autarcas eleitos estão a cumprir as promessas.

Para além destes cinco municípios, outros dois ponderam seguir o mesmo caminho: Huesca e Alicante. A nova autarca de Madrid, Manuela Carmena, também já avisou que não irá destinar “nem um euro público” para eventos que exploram os animais. Veja a opinião de várias regiões espanholas sobre o tema, 

Galiza

O município da Corunha decidiu na semana passada suspender a Feira Taurina, apesar do pré-contrato assinado com um empresário. O presidente da câmara, Xulio Ferreiro (Marea Atlántica), prometeu durante a campanha eleitoral “não financiar a exploração de touros, nem outros espetáculos de maltrato animal”. A plataforma abolicionista Galicia, Mellor Sen Touradas aplaudiu a medida e destacou que esta decisão pode abrir o debate sobre a possibilidade de impulsionar uma iniciativa legislativa popular sobre a abolição das corridas de touros.

Comunidade Valenciana

É a região onde mais tem aparecido novos municípios anti-touradas. Em Gandía – localidade da Comunidade Valenciana onde não foram realizadas corridas de touros durante 24 anos, até 2012 – as coligações políticas que actualmente governam a região, PSOE e Mes Gandía, decidiram eliminar as festividades taurinas sob os argumentos de que “Gandía é contra o maltrato animal” e porque “é uma despesa que não pode ser assumida actualmente”.

Em Alzira, onde os chamados “bous al carrer” começaram a ser celebrados há sete anos com o apoio do PP (Partido Popular), tais celebrações foram também canceladas pelos novos governantes (Compromís), com o argumento de que a maioria da população não aprova estas práticas na localidade. Além desses, outros municípios valencianos, como L’Horta, Xàtiva e Aldaia planejam realizar referendos sobre a organização de eventos que exploram touros. Em Alicante, por sua vez, o tripartido PSOE, Guanyar e Compromís prevê retirar o apoio financeiro e ajudas públicas à praça de touros, e em 2017 acabarão definitivamente as festividades.

Ilhas Baleares

Mancor del Vall (Maiorca) é, desde o dia 1 de Julho, o povo balear número 18 na lista dos declarados “municípios anti-touradas”, a pedido do novo prefeito, de Mes per Mancor. A capital, Palma de Maiorca, poderá também integrar a lista, debate previsto para o próximo dia 30 de Julho, o primeiro da legislatura. Com o propósito de pressionar as autoridades, a associação “Mallorca sin sangre” (Maiorca sem sangue) convocou uma manifestação para o sábado dia 25 de Julho. A lista de municípios anti-touradas na Espanha abriga actualmente um total de 101 localidades. A primeira a encabeçar a lista foi Tossa del Mar (1989) e a última a juntar-se Ariany (Maiorca), em Janeiro de 2015.

Aragão

O município de Huesca também está susceptível a questionar os seus cidadãos sobre a celebração destas festividades. O presidente da câmara, Luis Felipe (PSOE), disse recentemente que “não proibirá nada”, mas abrirá uma via de diálogo para que as pessoas decidam o modelo de festas que querem para a Feira de São Lourenço. “Se houvesse o não como proposta para o espetáculo de touradas, seriam os cidadãos que decidiriam, pois haveria um referendo para isso”, garantiu.

Comunidade de Madrid

Em Madrid, os vencedores do município de Pinto, Ganemos Pinto, também decidiram deixar de financiar as largadas e corridas de touros. O último plenário municipal foi celebrado no final de Junho. Por sua vez, a presidenta da câmara de Madrid, Manuela Carmena, também planeava, no seu programa de governo, deixar de financiar as touradas. O grupo governamental “Ahora Madrid” renunciou ao seu espaço na plateia da Praça de Touros Las Ventas e não financiará a escola de toureiros. Somos Alcalá optou por sair da comissão de festividades para evitar ter que colocar touros na programação habitual.

Os abolicionistas vêem estes tímidos primeiros passos como um “avanço positivo porque demonstra que os partidos perceberam que há uma necessidade da população de acabar com o drama que vivem os animais nessas festividades”, nas palavras de Amanda Luis, do Pacma. Ela considera que o não financiamento destes eventos ainda não é o suficiente. “Se o que queremos é construir uma sociedade mais justa e ética, os eventos taurinos não só devem deixar de ser subsidiados, como também devem ser proibidos. Ou a tortura deixa de ser humilhante quando é paga com o dinheiro privado?”, disse. A sua proposta passa por uma “proibição, gradual, mas proibição¨, sem deixar de lado outros “maus-tratos a animais como a caça e o abandono de cães”, acrescenta.

greensavers.sapo.pt
via ANDA

terça-feira, 10 de junho de 2014

Ganadeiro Arrasa Tauricidas e Aficionados

Numa entrevista dada ao blogue tauromafioso “Naturales”, o ganadeiro José Luis de Vasconcellos e Sousa d’Andrade fez acusações demolidoras contra tudo e todos que vivem à conta da tortura de seres sencientes.

São entrevistas como esta que mostram a realidade do asqueroso mundinho tauromáquico.

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IMPERDÍVEL:
Entrevista a José Luis de Vasconcellos e Souza d' Andrade
O Naturales foi falar com José Luis de Vasconcellos e Souza d' Andrade e o resultado foi uma conversa directa e sincera. O Cavaleiro e Ganadero falou sem papas na língua.
O toiro, o toureio a cavalo, o púbico e a festa em geral foram temas abordados. A não perder!

"Repare os nossos empresário são uns parvos, eu nem sei para que compram toiros aos ganaderos. Deviam mandar fazer um toiro de corda que lhes dava para a temporada inteira."

Foi e é cavaleiro de Alternativa, mas também é ganadero?
É verdade comprei a antiga ganadaria Coimbra já lá vão um par de anos.
E porquê a ganadaria Coimbra?
Porque sempre foram toiros que me encantaram. Esta ganadaria de encaste Tamaron, Conde de la Corte estava para ir para o matadouro. Toiros encastados, bravos e sem serem parvos. Não gosto de toiros de corda.
Toiros de corda?
Repare os nossos empresário são uns parvos eu nem sei para que compram toiros aos ganaderos. Deviam mandar fazer um toiro de corda que lhes dava para a temporada inteira. Os senhores que se dizem cavaleiros na maior parte só querem toiros a modo. Ter lá um toiro de corda ou ter lá um "boi preto com cornos" é o mesmo. Quando lhes sai um toiro de verdade, com as complicações inerentes e características da raça brava não podem com eles, vetam, chamam todos os nomes ao ganadero, O problema deles nem é o toiro é a falta de oficio que tem e só sabem de artes de circo.
Falou nas características inerente aos toiro de raça brava, quais são elas?
A primeira obrigação de um toiro é colher e matar o toureiro. E o toureiro tem que saber "burlar" as suas investidas. Mas estes toureiros de agora como lhe disse se lhes sai um assim até se cagam todos. Um ganadero tem que procurar a bravura, não a comodidade, um toiro desses de agora da moda/corda não passam de uns bois mansos, descastados.
Pelo que diz os seus toiros não estão ao jeito de todos os toureiros, podemos considerar os seus toiros como "duros"?
Duros!? Não sei se o são, não costumo comer a carne dos meus toiros. Mas agora fora de brincadeiras não sei o que é um toiro duro!! Sei o que é um toiro bravo ou manso. E os mansos também cá os tenho, mas sem serem da corda.

"Quando vê ai certos números de circo nas praças, acha que o cavalo está no seu juízo perfeito!"

Já falou várias vezes em toiros de corda, fala do encaste Murube especificamente?
Não falo em encastes, cada um tem as suas características. Também há Murubes bravos. Eu falo é de seleção! Olhe a maior parte das pseudo figuras gosta muito de mandar em casa alheia! Tem estragado as ganadarias e acabado com encastes. E sabe porquê Miguel? São maus cavaleiros. Não tem noção se quer do cavalo quanto mais do toiro... Ele são martingalas e quando não as usam à vista usam de outra maneira.
De que maneira?
Quando vê ai certos números de circo nas praças, acha que o cavalo está no seu juízo perfeito!
Na sua ganadaria já tentaram mandar?
Vão logo porta fora... Aqui mando eu e quem eu quero que mande.
Vejo-o muito desgostoso com a festa, vai aos toiros em Portugal?
Muito pouco, só quando lido e nem sempre. Acha que estou para dar dinheiro a artistas de circo. Acha que gosto de ver um boi no centro da praça com um cavalo cheio de martingalas à volta.

"Mas como os portugueses o que gostam é de ser enganados, participam na festa."

Pelo que diz como ganadero gosta de fereza na praça?
Nada disso. Quem procura isso também é um louco, procuro nobreza, casta e bravura. Mas se confunda com a nobreza... Nobreza não é toiros parvos e estúpidos. A malta anda ai confundida com os conceitos de seleção.
Andam confundidos?
Sim andam, a falta de cultura desta gente e não é só da dos toiros. Mas estes são os piores. Alguns acham que são muito espertos mas não passam de patetas. Mas como os portugueses o que gostam é de ser enganados, participam na festa.
Voltemos à ganadaria... Cria toiros em Portugal, teve grande cartel em Espanha e França.
Tive e acho que tenho. Mas lá como cá uns touirecos acham que mandam nisto e só querem toiros de corda.
Mas acha que lá as coisas se fazem mais a sério?
Um bocadinho nas praças importantes tem que gramar com eles em pontas e isso assusta mais. Nas outras praças não lhe cortam mais os cornos porque não podem.
Mas como cavaleiro gosta de ver tourear a cavalo?
Gosto, mas ele é tão pouco... Tenho quase que ir às memórias.

90% não tem nem ideia do toiro nem do toureio. Pensam que entendem. São uns entendidos!

O que é para si tourear a cavalo?
Olhe para se tourear a cavalo primeiro tem que se ser cavaleiro e saber o que isso é. Já perguntou a essas personagens que se dizem cavaleiros se sabe o que é ser cavaleiro? O toureio a cavalo está dentro de um quadro em que a equitação académica renascentista se adapta ao combate cavaleiro-toiro. Mas isso nem interessa estar para aqui a falar. Eles nem vestir se sabem como poderão saber do resto...
E de quem é a culpa?
Essa desgraçada morre sempre solteira.
Acha que o público tem a culpa por não exigir?
Exigir o quê!? Esses nem sabem o que vão ver, vão para ser vistos.
Mas ninguém percebe de toiros em Portugal.
90% não tem nem ideia do que é um toiro nem de toureio. Pensam que entendem. São uns entendidos!
E como vê a critica taurina em Portugal?
Não vejo. Olhe está aqui a fazer esta entrevista porque me dizem que não faz parte da escumalha que anda ai a deitar palpites.
O Miguel acha, não é porque veja ou leia, que se pode triunfar sempre? Uns dos que escrevem se calhar até percebem qualquer coisa, mas como são umas "putas baratas", são logo comprados. Mas das finas também há ai muito...
Está a dizer que a crítica em Portugal é comprada? Isso é uma afirmação grave.
Estou! Grave porquê? Mais grave é andarem a esconder os podres, dizerem mentiras e a maior partes das vezes barbaridades. Olhe todos mandam menos o toiro.
E em relação ao toiro, pensa que se sabe avaliar o comportamento em praça? Estou a falar da crítica!
Dizem quase todos o mesmo, é preto, tem cornos...

"Oh homem isso não são adaptações nenhumas, isso de morder, bater palmas, andar de lado, porque ladear é outra coisa são números de circo, não chame nunca a isso tourear."

Agora está muito em voga o toiro cumpriu?
Pois estão a falar de borregos. Esses que cumprem nem sabem para que tem os cornos na cabeça.
Onde se vão ver os Sommer em 2014?
Onde os quiserem colocar... Não os deve ir ver com esses que se dizem figuras, esses não podem pensar neles. O medo é inerente ao toureio, mas o pavor é uma fraqueza. Nem é pavor é mais falta de conhecimento para os tourear.
Vejo que é pouco adepto destas novas aportações ao toureio a cavalo?
Oh homem isso não são adaptações nenhumas, isso de morder, bater palmas, andar de lado, porque ladear é outra coisa são números de circo, não chame nunca a isso tourear.
Já vi que não gosta de circo?
Gosto, gosto! Tenho muito respeito pelos palhaços... Mas nos toiros não gosto de ver palhaçadas!
Olhe acha que se um toiro investe a direito se pode andar com um cavalo de lado? Só com toiros de corda e carril.
E um toiro bravo dá para fazer essas habilidades?
Não! Mas esses não querem e fogem deles como diabo da cruz.
E como se deve então tourear a cavalo?
De frente e ao estribo. Mas isso já não se usa, está fora de moda, é feio e díficil. Agora é só cambiadas e isso é uma mentira, parece que tem perigo, mas não o tem. Se não veja o que caiu em fora de moda? O difícil! Ponha lá esses dos números a deixar vir um toiro de poder a poder e a cravar de frente e ao estribo. Nem o tentam fazer os cavalos só sabem tourear toiros parados e quando aquilo arranca o cavalo e cavaleiro até se cagam. Isto hoje é tudo uma farsa do pior.
O que me diz da aficion do Campo Pequeno?
Das piores, vão lá como lhe disse para serem visto e outros para se verem depois nas fotografias. Vão a Lisboa, é diferente. As senhoras ver os fatos umas das outras e falar ao telefone e nós para vermos umas meninas bonitas nas barreiras. Muito pouca gente vai ver a corrida e esses vêm sempre de lá aborrecidos.
Bom mas onde vamos ver os seus toiros?
Penso que vão a Santarém e digo penso porque cá nunca se sabe. Mas pergunte ao meu representante, Rui Piteira, que ele é que sabem bem isso. Eu já nem estou para aturar empresários, cavaleiros, bandarilheiros. Tenho a ganadaria só para me divertir aqui. Na praça como lhe disse a maior parte das vezes nem lá vou.
Sorte para a temporada.
Obrigado! Mas a sorte é relativa, acha que um toiro pode ter sorte com esta gente que tomou conta disto?!



Fonte da entrevista: naturales

sábado, 24 de maio de 2014

O Duplo Sofrimento dos Touros


Depois do longo sofrimento que os touros padecem durante as touradas, outro tipo de sofrimento os espera até serem mortos num qualquer matadouro.

Nos curros da praça, e longe dos aficionados que bateram palminhas e gritaram olés ao sofrimento animal e que se estão nas tintas para o que acontece depois, estes animais voltam a sofrer quando lhes são arrancadas as bandarilhas:



Extremamente debilitados pela dose dupla de sofrimento, são encaminhados para o camião que os levará ao seu destino final, destino esse que eles pressentem.

Atenção, o audio/vídeo que se segue, contém sons que podem ferir a sensibilidade de muitos dos nossos leitores:



E se mais provas fossem necessárias, o ex-presidente da câmara municipal da Azambuja, num comentário postado no facebook, comprova o atrás afirmado, mesmo tendo em conta que o mesmo foi feito porque é um defensor de touradas com a morte do animal na arena.


Por muito que a indústria tauromáquica continue a vomitar aberrações tais como os touros têm uma vida de rei, não sofrem assim tanto, etc., a verdade é que este negócio lhes enche os bolsos e lhes permite viver à tripa forra, comprar montados e criar mais e mais animais, porque sabem que à parte do lucrativo negócio da venda dos mesmos, ainda vão receber subsídios estatais, europeus e camarários.

Tudo o que envolve tauromaquia é um asco, um vómito, um universo de gente atrofiada, que começa nos ganadeiros, passa pelos “artistas”, empresários tauromáquicos e aficionados para terminar nos políticos que se deixam corromper prometendo que jamais permitirão a abolição do espectáculo.

Só erradicando este cancro que assola o país poderemos evoluir.

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sexta-feira, 16 de maio de 2014

O touro tem uma vida de rei durante 5 anos e depois sofre na arena durante 20 minutos

Deveria preocupar-nos o carácter doentio de criar animais para os sujeitar a um ritual de tortura antes de os matar. Até porque sabemos que violência é violência, qualquer que seja a vítima e não é por acaso que diversos estudos no âmbito da psicologia, demonstrem que todos os serial killers treinaram os seus dotes primeiro em animais.

É a sede de dominar e de subjugar que emana deste tipo de cultura, donde provém igualmente a violência doméstica (em que o mais forte necessita permanentemente de afirmar a sua superioridade através da submissão dos mais fracos).

Se o simples abandono de animais de estimação é consensualmente condenado pela população, por que motivo devemos aceitar que outros torturem touros, por mais bem estimados que sejam?


(DES)Argumentos:  tauromaquia
Fonte

É melhor a vida de um touro de lide do que a dos bois para consumo


Nenhum mal pode ser justificável por comparação com outro mal maior.

Corredor da Morte


O touro gosta da lide, sente-se respeitado

Deve ser resultado de algum estudo de opinião em que entrevistaram os touros à saída da arena...

Este é mais um paradoxo da defesa da tauromaquia: por um lado acusam os que a ela se opõem de antropomorfizar o touro quando falam em sofrimento mas, por outro não têm qualquer pudor em afirmar que o touro sente honra, arrogância ou paixão por ser ludibriado e ferido num ambiente hostil, longe dos seus pares.

A valentia, a inteligência contra a força bruta

Há quem prove diariamente que a valentia e a inteligência são superiores à força bruta, através da literatura, da filosofia, da ciência, da tecnologia, da política, da intervenção social.

A corrida de touros está concebida de forma a que um dos lados esteja preparado para vencer e o outro condicionado para perder. Não é por acaso que as praças são redondas, que os cornos são despontados e embolados, que os toureiros aprendem as técnicas de melhor enganar o touro, que a música toca, que o público grita, que a sequência e o tamanho das bandarilhas é precisamente aquele.

Assumindo que a inteligência é a capacidade de resolver novos problemas, o touro – o tal animal irracional – é o único que a tem que usar, porque é aquele que não sabe o que o espera. Se ensinássemos o touro (sim, são capazes de aprender, como todos os outros animais, através de estímulos positivos e negativos) a apontar ao corpo e não à muleta, a não reagir às primeiras agressões e esperar que o torturador se exponha cada vez mais, a virar a cabeça de lado no momento do encontro com o forcado? E se, sobretudo, o fizéssemos sem o conhecimento prévio de toureiros e forcados? Aí o desfecho seria seguramente outro e já não seria “justo”.

Basta ver os gestos repetidos e as expressões grotescas de triunfo dos toureiros para perceber o carácter supérfluo, primitivo e inútil da necessidade de um ritual em que o homem pretende demonstrar a superioridade sobre um animal. É fácil de perceber que uma coisa destas ao invés de elevar o homem, bestializa-o.

É ainda importante considerar a própria pertinência de perpetuar um ritual primitivo em que, supostamente, se confrontam a inteligência e a força bruta. Acima de tudo, é um ritual de vaidade, supérfluo e desnecessário. Alegar que tal confronto é uma das essências da tourada é afirmar que o homem precisa de provar que é intelectualmente superior a um animal, o que é verdadeiramente absurdo.

Concluindo: houve inteligência sim, mas a montante, na construção desta sequência. Mas sabemos bem do que a inteligência sem empatia é capaz.

O touro não sofre


Sabemos que é reprovável causar sofrimento por motivos triviais. Mas o que é facto é que o touro tem que sofrer durante o espetáculo com que se deleitam os aficionados.

Por isso parece-lhes melhor defender a ideia absurda de que um animal que sente uma mosca a picar-lhe os flancos, por uma espécie de passe de mágica, numa arena não sente ferros de 8cm de comprimento com um arpão de 4cmx2cm a enterrarem-se-lhe na carne e a dilacerarem-lhe músculos, vasos sanguíneos e nervos.

Para conferir alguma credibilidade a este absurdo, invocam muitas vezes um pseudo- estudo do porf. Illera, que obviamente não conseguiu passar pelo crivo do peer review. E como não conseguiu publicar em revistas científicas, optou por publicar as suas conclusões em revistas tauromáquicas que o acolheram de braços abertos e divulgaram até à exaustão.

Entre os argumentos pseudo-científicos frequentemente associados à alegação de que o touro não sofre, a questão da adrenalina costuma ter um papel de destaque. Dizem que a secreção de adrenalina como elemento inibidor de dor é a prova de que o touro não sofre com as agressões que sofre durante a lide. A auto-contradição é evidente: a secreção de adrenalina ocorre em momentos de claro perigo e tensão e é o mais claro indicador de que o touro está, efectivamente, a sofrer. Senão, a adrenalina não seria sequer necessária.

Puro bom senso.

Controvérsia sobre o sofrimento dos touros 
O touro picado não sente dor - As lérias do prof.Juan Carlos Illera  

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Premiar a irresponsabilidade?


Foi com estupefacção que tivemos conhecimento de que a Associação Portuguesa de Deficientes distinguiu a reportagem da CMTV 'Pegar a vida' com o prémio Dignitas 2013 na categoria de Jornalismo Digital.

Entendíamos se a referida reportagem aproveitasse para expor e condenar os comportamentos de risco que levam muitos jovens a comprometer a sua integridade física em exercícios de dominação e bravata numa lógica machista de exibicionismo puro.
Mas não, a referida reportagem entra num caminho ostensivamente condenável: a glorificação desses comportamentos aberrantes.

Move-nos não um ódio cego contra a tauromaquia, mas o entendimento de que é imperioso erradicar a ideia de que algumas vidas valem menos do que outras.

Como se sentirão as pessoas que se lesionaram permanentemente como resultado de acidentes de trabalho, na tentativa de salvarem vidas ou por acidentes provocados por outrem, ao depararem com o destaque dado a esta notícia? O que sentirão os inúmeros portadores de deficiência deste país em situação de carência económica perante esta festa e a angariação fácil de 100.000€ para premiar a irresponsabilidade?
Defraudadas, seguramente, inclusive pela própria associação que as deveria representar e defender.

CAPT - Campanha Abolicionista da tauromaquia em Portugal

fonte da notícia: cmjornal

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O paralelismo entre a tauromaquia e o mito do Minotauro

Tauromaquia: do grego ταυρομαχία. Combate com touros.

Cnossos, Creta: o berço dos primeiros eventos com touros originou uma das histórias mitológicas mais trágicas e fascinantes do mundo; a lenda do Minotauro ainda assombra-nos pela crueza dos acontecimentos, envolvida num acto de bestialidade que deu origem a um ser híbrido assassino de humanos.


Fresco no palácio de Cnossos, representando o culto do touro através da prova da resistência física com as mãos nuas - 1500 a 1400 a.C.

Todavia, como poderá estar este mito interligado com as corridas de touros?

A religião minoica era recheada de rituais orientados para o culto da vegetação. A morte e o renascimento dos deuses, bem como a representação simbólica e sagrada de alguns animais, eram a base primordial da cultura religiosa praticada. O touro, como um dos animais sagrados, eram obviamente utilizados nos cultos, especialmente em combates.
A magnificência e imponência do animal não passaram de todo despercebidas, originando o mito perturbador do Minotauro: este, rapidamente, tornou-se no símbolo do animalesco, roçando a barbaridade, a irracionalidade e o caos.

É importante salientar que apesar da crueldade do Minotauro estar associada ao seu lado animal, tal afirmação é incongruente: sabemos que o touro não mata pessoas por bel-prazer e que, muito menos, alimenta-se delas. Já o caso muda de figura em relação ao próprio ser humano, que não hesita em matar o seu semelhante num piscar de olhos. Podemos, desta forma, considerar que a violência imensa do Minotauro deve-se mais pelo seu lado humano: todavia, assim como as mulheres, os animais eram utilizados nos mitos para representar uma esfera negativa, daí a conspurcação exclusivamente feminina nesta história (a relação física de Pasífae com um touro) e a simbologia da destruição aliada somente à figura do animal presente no Minotauro.

O mito: o rei Minos de Cnossos recebeu um touro branco, vindo dos mares, como aprovação do deus Poseídon pelo seu reinado. Apesar de ter conhecimento do dever de sacrificar o animal em homenagem ao deus, Minos ficou tão admirado pela sua beleza sobrenatural que decidiu mantê-lo e sacrificar outro na esperança que tal passasse incógnito.
A tentativa de lubridiar Poseídon falhou: este, furioso, lançou um feitiço a Pasífae, esposa do rei, para que esta se apaixonasse perdidamente pelo touro branco. A mulher solicitou a ajuda de Dédalo para conseguir envolver-se amorosamente com o animal. O artesão construiu uma espécie de vaca em madeira, cujo interior abrigava e disfarçava Pasífae.
O acto sexual deu origem ao monstruoso Minotauro: o seu crescimento suscitou problemas ao tornar-se cada vez mais feroz. Por ser fruto de uma união não-natural entre um humano e um animal não-humano não tinha qualquer fonte natural de alimento, atacando e devorando homens para a sua sobrevivência. Minos decidiu recorrer à genialidade de Dédalo para arquitectar um imenso labirinto próximo ao seu palácio, no qual o ser híbrido foi encerrado.
 

Representação do Minotauro num vaso ático de 515 a.C.

Veja-se que o labirinto não é somente o símbolo da perdição: os minóicos detestavam espaços fechados - o palácio e as restantes residências apresentavam imensas divisões em aberto - e o facto do labirinto ter paredes altíssimas que permitiam ver o exterior sem poder alcançá-lo constituía uma fobia extrema que levava à loucura. O Minotauro, como humano, sofria com a solidão: como touro, sofria com a clautrofobia imensa do ambiente. Sabe-se que os touros adoram estar em liberdade e que necessitam de luz solar para o seu bem-estar: num labirinto escuro e frio tal era inacessível ao ser mitológico. Essa dupla castração despertou a violência extrema que acompanhou o monstro até à sua morte. E é aí que a tauromaquia e o mito aproximam-se ainda mais.

Os gregos odiavam os cretenses. Acusavam-nos de mentirosos, arrogantes e traidores. O próprio poeta Homero quase nunca indicou o povo de Creta nos seus poemas, exceptuando n'A Íliada - em que estes lutavam ao lado de Tróia.
O mito do Minotauro foi, então, transformado num conto heróico ateniense através de Teseu: o filho de Egeu ofereceu-se como sacríficio, relacionado com a taxa imposta por Minos, por este ter saído vencedor numa guerra contra Atenas. Essa taxa comportava a entrega de sete jovens rapazes e sete donzelas, a cada nove anos, para serem devorados pelo Minotauro. Deste modo, o rei cretense dava a certeza que não repetiria qualquer ataque bélico à cidade grega.
Ariadne, filha de Minos, apaixonou-se por Teseu. Mortificada por este estar prestes a ser engolido pelo assombroso labirinto, entregou-lhe um novelo de lã para marcar o caminho e assim conseguir sair ileso. Munido de uma espada, Teseu entregou-se ao labirinto de pedra e matou o Minotauro com um único golpe, cortando-lhe a cabeça.

Esta viragem no mito influenciou a visão humana sobre o touro: os atenienses cortaram com o véu sagrado que protegia-o e sacrificavam-no num verdadeiro culto sanguinário. O touro era agora simbolizado como uma besta hedionda e perigosa e matá-lo era sinónimo de coragem e força: o presente perfeito para os deuses do Olimpo. Os combates com touros intensificaram-se, com os actos violentos a aumentar cada vez mais. Havia até um costume absurdo que implicava a morte de um touro: tal arrastava-se numa espécie de jogo de acusações para descobrir-se quem, na verdade, o matou (?!).
A tradição de utilizar o touro para eventos, que resultavam invariavelmente na sua morte, foi absorvida pelos romanos após a invasão, que também utilizavam variados animais nos circos mortais, e consequentemente enraizada na Península Ibérica. A tourada que hoje em dia continua a ser realizada é, de facto, fruto de uma cultura que negativizou a imagem do touro em detrimento de um povo que era odiado. Foi pela rivalidade e pela inimizade entre homens que o grande animal viu a sua vida a ser selvaticamente alterada ao longo dos tempos. Mas quiçá, tal e qual como uma história tem um ponto final, a barbaridade que continua a ser-lhe administrada findará também.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

... Terão Paz afinal!



"... Vai começar a festa....
Debaixo de um calor de mais de 30º, sem vento e depois de terem permanecido mais de 12 h metidos numa divisória de metal de um camião onde mal se podem mexer, os 6 touros vão ser "lidados" na praça.

Vão ser perfurados com ferros (bandarilhas) que medem 70 cm de comprimento, enfeitadas com papel de seda de variadas cores e rematadas com um ferro de 8 cm, com um arpão de 4 cm de comprimento e 20mm de largura, com farpas ou ferros compridos e ferros curtos que medem, respectivamente, 140 cm e 80 cm de comprimento, com ferragem idêntica à da bandarilha, mas com dois arpões enfeitados e rematados da mesma forma que as bandarilhas.

Os ferros que lhe penetram e rasgam o músculo, provocarão uma dor lancinante (o touro sente até uma mosca pousar-lhe no dorso - daí abanar com a cauda para a enxotar - porque não haveria de sentir dor se é feito de carne e osso como nós?). Depois de lhe serem cravados os ferros, exaustos e debilitados, enfraquecidos, vão ainda ser atormentados por 8 homens que o vão provocar, tentar imobilizar, saltar-lhe para cima e puxar-lhe violentamente a cauda (vértebras serão partidas) e humilhá-lo.

Depois será obrigado a recolher ao camião, como alguém me dizia hoje de manhã, "puxado e arrastado tão violentamente por cordas que se fica com a sensação que lhe vão arrancar os cornos".

No camião, ser-lhe-ão arrancados os ferros, a sangue frio, cortando a carne à volta do arpão com uma faca, deixando-lhe o dorso esburacado em carne viva...

Depois da "festa rija", quando os espectadores tiverem dificuldade em manter-se em pé, o touro vai ser levado para o matadouro, no mesmo camião onde não se pode mexer, deixando atrás de si um rasto de sangue e diarreia.

Hoje é sexta-feira.
Amanhã é sábado, os matadouros não trabalham.
Domingo também não.
Com sorte e, se não tiverem morrido até lá, os touros serão finalmente mortos na segunda-feira, depois de atordoados com choques eléctricos e pendurados de cabeça para baixo.

Terão Paz afinal."


Texto de isabel Santos - Campanha contra as touradas no mundo





sábado, 15 de junho de 2013

A tourada vista por um médico veterinário


Os animais humanos e não humanos são seres dotados de sistema nervoso, mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem sentir e tomar consciência do que se passa em seu redor e do que é agradável, perigoso e agressivo e doloroso.

Estes seres experimentam sensações, emoções e sentimentos muito semelhantes. Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa e de fuga, sem as quais, não poderiam sobreviver. Portanto, medo e dor são condições essenciais de sobrevivência.

Afirmar-se que nalguma situação não medicada, algum animal possa não sentir medo e dor se for ameaçado ou ferido, é testemunho da maior ignorância, ou intenção de negar uma verdade vital.

A ciência revela que o esquema anatómico, a fisiologia e a neurologia do touro, do cavalo e do homem e de outros mamíferos são extremamente semelhantes.

As reacções destas espécies são análogas perante a ameaça, o susto, o ferimento. O senso comum apreende e a ciência confirma-o.
Depois desta explicação, imaginem o sofrimento horrível que uma pessoa teria se fosse posta no lugar de um touro capturado e conduzido ao “calvário” de uma tourada.

Conclusão comportamental ética?

Seres humanos (tauromáquicos) não devem infligir a outros seres de sensibilidade semelhante (touros e cavalos), sofrimentos a que os próprios infligidores (tauromáquicos) não aceitariam ser submetidos.
Na tourada à portuguesa importa mencionar o terrível sentimento de claustrofobia e pânico que o touro sofre desde que é retirado violentamente da campina e transportado em aperto até à arena. Depois, há o maltrato com a finalidade de o enfraquecer física e animicamente antes de ser toureado.

Na arena, o touro enfrenta a provocação e a tortura durante a lide e no fim desta, com a retirada sempre violenta e muito dolorosa das bandarilhas, rasgando ou cortando mais o couro sem qualquer anestesia.
No final de tudo, o animal é metido no transporte, esgotado, ferido e febril, em acidose metabólica horrível que o maldispõe e intoxica, até que a morte o liberte de tanto sofrimento.

O cavalo sofre um esgotamento e terrível tensão psicológica ao ser usado como veículo, sendo dominado, incitado e lançado pelo cavaleiro e obrigado a enfrentar o touro, quando a sua atitude natural seria a de fuga e de pôr-se a uma distância segura.

À força de treino, de esporas que o magoam e ferem, de ferros na boca e corrente à volta da mandíbula, que o magoam e o subjugam, o cavalo arrisca morte por síncope/paragem cardíaca, ferimentos mais ou menos graves, até a morte na arena.

É difícil, senão impossível, acreditar que toureiros e aficionados amem touros e cavalos, quando os submetem a violência, risco, sofrimento.
Questiono-me porque se continua a permitir uma actividade que assenta na violência e no sofrimento público de animais, legalizado e autorizado por lei e até apreciado, aplaudido e glorificado por alguns?

E uma verdadeira democracia não permite nem legaliza a tortura. E você?

Vasco Reis,13.6.13
Publicado no Algarve Jornal 123, Portimão, Algarve, Portugal