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segunda-feira, 29 de julho de 2013
Touradas. Uma tradição pelo país fora mas "sem margem de lucro"
Viana do Castelo volta a viver a polémica à volta da proibição de uma tourada. O i foi à procura do impacto de um negócio que sempre dividiu mais do que uniu.
Às touradas por causa dos touros.
O trocadilho é repetitivo e fácil de montar, mas ajuda a descrever uma guerra, que tem em Viana do Castelo a sua mais recente batalha. E logo no primeiro concelho do país a assumir-se como "antitouradas": em 2009 aprovou uma declaração para obrigar qualquer organizador a pedir-lhe autorização para realizar um espectáculo com animais. Logo, uma tourada ou corrida de touros. Mas a Prótoiro (Federação Portuguesa das Associações Taurinas), pelo segundo ano consecutivo, resolveu, sem consultar a autarquia, agendar uma tourada para a cidade. No meio do finca-pé entre a autarquia de Viana do Castelo e a associação - que vai durar, pelo menos, até 18 de Agosto, data da corrida - está a logística de um negócio que já pode "ter os dias contados".
O presságio é carregado pela voz de Joaquim Pinta Negra. Do outro lado da chamada, sempre vazia de alegria, nota--se o conformismo de quem passou "os últimos 40 ou 50 anos" a organizar corridas e touradas, a grande maioria na região de Torres Vedras. Responde com um "não" misturado entre risos quando queremos identificá-lo como empresário tauromáquico. Organizador de touradas então? "Pode ser." É o único momento descontraído da conversa, até Joaquim traçar com pessimismo o caminho onde hoje vê a tauromaquia em Portugal.
As touradas e corridas, lamentou, "têm tendência para acabar." Uma análise ao número de espectáculos tauromáquicos realizados em Portugal desde 2000 não afasta esta previsão. No ano passado realizaram-se 274 eventos no país, de acordo com os números da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide (APCTL). Nos últimos 12 anos, aliás, só 2007 ficou como a excepção à regra - de resto, o número de espectáculos diminuiu sempre face ao ano anterior.
Sinal de que o interesse na tauromaquia está a diminuir, ou um reflexo da própria crise financeira do país? O último relatório da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC), datado de 2011, mostra que, nesse ano, cerca de 660 mil pessoas assistiram a espectáculos tauromáquicos em Portugal. Em 2012, o número caiu para os 533 mil, segundo dados contabilizados pela APCTL. O IGAC, entidade tutelada pela Secretaria de Estado da Cultura, ainda não publicou o seu relatório de actividades referente a 2012.
Os números por si só não esclarecem a questão, mas Joaquim já opta pelo pessimismo. "Todos temos os dias contados: as ganadarias estão à rasca, muitas a fechar ou a reduzir efectivos, e os toureiros não têm dinheiro para os cavalos", previu. A conversa, por fim, acaba por chegar às touradas. Este ano, só entre Maio e Setembro da temporada tauromáquica, estão agendadas 84 touradas em Portugal. Lisboa, com 12 espectáculos, é o distrito mais concorrido, seguido de Santarém (11) e Évora (10). Só três dos 18 distritos do mapa não tinham qualquer corrida prevista nestes cinco meses.
Muitos destes espectáculos aterram em praças móveis e desmontáveis, espalhadas por localidades que nem sempre contam com arenas fixas. Os custos, como tudo, variam. Uma corrida montada numa destas praças fica à volta dos 25 mil euros? "Se tiver bons nomes [de cavaleiros], uma coisa com nível, ficará pelo menos no dobro", corrige Joaquim, ao responder, entre risos, à quantia sugerida pelo i à primeira tentativa. "É sempre muita despesa, muita mesmo", desabafa.
AS DESPESAS
As primeiras começam logo com as obrigações legais, definidas pela IGAC. A tabela de serviços da entidade obriga a cada corrida de touro o pagamento de 1077,30 euros de taxa "até cinco dias úteis antes do espectáculo". O montante varia depois consoante o tipo de actividade tauromáquica em questão: entre novilhadas (887 euros), variedades taurinas (760 euros) e novilhadas populares ou festivais taurinos (443 euros).
Além da taxa, o recinto da tourada terá sempre de ser sujeito a uma vistoria, executada por delegados da IGAC. Caso se trate de uma arena com capacidade superior a mil lugares, esta despesa nunca será inferior a 373 euros. Só em obrigações com a tutela, portanto, uma tourada implica o pagamento de quase 1500 euros. E fica a faltar o resto - os custos com delegados técnicos tauromáquicos (da IGAC), policiamento, serviços de bombeiros, ambulâncias, touros (e o seu transporte), promoção do evento e até direitos de autor das músicas tocadas no recinto. "Uma corrida nunca fica por menos de 25 mil euros", esclarece Hélder Milheiro, membro da comissão executiva da Prótoiro, actualmente ocupado em organizar a (prevista) tourada de Viana do Castelo, antes de acrescentar que, em média, são necessárias 175 pessoas para montar e preparar um recinto. Isto quando a tourada é acolhida por uma praça móvel. Passar a conversa para o Campo Pequeno, a praça lisboeta com capacidade para cerca de 10 mil pessoas, dá logo direito a inflacionar os números.
SEM LUCRO
Neste caso, só em encargos fixos, uma tourada implica um custo a rondar os 20 mil euros. Já o policiamento, bombeiros e ambulâncias, juntos, correspondem a quase 1500 euros. "Há encargos muito grandes, [por isso] não há grande margem de lucro", confessa ao i fonte da organização de espectáculos da praça. Algo compreensível quando alguns dos artistas e cavaleiros de maior renome no país "chegam a pedir quase 25 mil euros" para actuarem como cabeças de cartaz nas maiores corridas do ano.
O cachet reservado aos artistas ocupa mesmo uma das fatias mais dispendiosas dos gastos ligados às touradas. E depende de factores "que podem ir desde a distância [da residência do cavaleiro] à praça, da simpatia do toureiro por uma localidade ou da força que este tenha para meter gente" na arena, como enumerou ao i Hugo Ferro, da Associação Nacional de Toureiros.
A quase ausência de lucros é uma queixa também partilhada por quem se dedica a criar animais com destino marcado à nascença. "Neste momento gastamos mais dinheiro a criar um touro do que ganhamos a vendê-lo", revelou João Santos Andrade, presidente da associação que congrega os criadores de touros de lide. Até chegar à praça, cada animal implica, "em números redondos", um investimento entre os 1000 e os 1500 euros dividido entre custos com ração, veterinária ou manutenção de infra-estruturas. "No mínimo", explicou o dirigente, criar um touro demora "três ou quatro anos", até ser vendido por uma verba a rondar "quase sempre" os 1500 euros. As contas, portanto, são fáceis de fazer. "Não há ganhos nenhuns, de uma maneira geral estamos sempre a perder dinheiro. Isto funciona mais como uma tentativa de manter a tradição e o negócio", admite, por fim, João Santos Andrade.
Manter o negócio e a tradição custa, e só o gosto pelo tauromaquia parece ir aguentando quem lida diariamente com o meio. "Se fizéssemos touradas com a intenção de pôr dinheiro na algibeira, era impossível", confessou Joaquim Pinta Negra, ao introduzir a missão a que hoje se dedica - a de "fazer um espectáculo com qualidade" para "a receita ir toda parar" a instituições de solidariedade.
No caso da "Corrida da Liberdade" de Viana do Castelo, porém, a questão está antes presa na legalidade do evento. Hélder Milheiro, da Prótoiro, nem coloca em causa a realização da tourada agendada para 18 de Agosto. "Do ponto de vista legal, é à IGAC que compete autorizar a corrida. Nenhuma autarquia em Portugal tem poder para proibir uma corrida", argumentou, ao classificar o problema como "puramente administrativo".
O dirigente defendeu que o projecto de "antitouradas" da autarquia "nunca chegou a ser aprovado em Assembleia Municipal" e "vai contra a lei que regula o bem-estar animal", já que esta "admite a tauromaquia como excepção". Até porque, prosseguiu o dirigente, os municípios "governam para o bem público e de acordo com aquilo que a comunidade deseja."
Em 2011, um inquérito realizado a 1133 pessoas pela Eurosondagem, em parceria com a Prótoiro, mostrou que 32,7% dos inquiridos era aficionado de espectáculos taurinos, enquanto 32,8% não gostava, embora também "não concordasse com que se tirasse a liberdade a quem gosta de assistir a actividades com toiros."
Fonte www.ionline.pt
quarta-feira, 10 de julho de 2013
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
"A última corrida de touros em Arronches"
A infausta morte, ocorrida a 16 de Março, de Francisco Matias, membro do grupo de Forcados Amadores de Portalegre, quando treinava a chamada “sorte da gaiola” numa tenta em Esperança, Arronches, trouxe-me à memória o conto de Luís Rebelo da Silva (1822-1871) que li no meu terceiro ano do liceu, por constar de uma selecta de língua portuguesa.
Muita gente se lembra desse conto, “Última corrida de touros em Salvaterra”, que até já deu a letra de um fado. Mas, para quem nunca o leu, acrescento que também aí há uma morte na arena, embora de um cavaleiro, o Conde dos Arcos. O velho pai, o Marquês de Marialva, que assistia à lide, desceu da bancada para enfrentar o touro, conseguindo ao matá-lo vingar a morte do filho. A corrida era real pois D. José estava a assistir, acompanhado pelo Marquês de Pombal. Nesta altura, o melhor é dar a palavra ao escritor, que narra assim o diálogo entre o rei e o primeiro-ministro:
Fui agora averiguar a veracidade desta história. A morte do Conde dos Arcos foi, de facto, autêntica, embora não tenha ocorrido na praça de Salvaterra, sob o olhar do rei e da sua corte (D. José já tinha falecido), mas sim num “brinco”, à vara larga, num sítio da lezíria perto de Salvaterra. O escritor romanceou bastante o episódio de modo que este melhor entrasse na literatura... Se eu, em jovem, julguei verídica a conclusão, agora limito-me a desejar que o tivesse sido: o fim das corridas de touros em Salvaterra. Impressionado com as circunstâncias da morte do jovem portalegrense, ao mesmo tempo que apresento os pêsames à sua família e amigos, não posso deixar de pensar que uma boa forma de manter viva a memória do jovem – o sexto forcado a morrer em lides taurinas nos últimos vinte anos! - seria determinar que a última corrida em Arronches, tal como a de Salvaterra no conto, tivesse mesmo sido a última.
D. José pode não ter proibido as corridas de touros, mas D. Maria II fê-lo em todo o território nacional. Em 1836, doze anos antes de Rebelo da Silva publicar o seu conto, o ministro do Reino Passos Manuel promulgou um decreto proibindo as touradas:
A proibição não durou mais do que escassos nove meses, tendo a tradição voltado a ser o que era. Nos dias de hoje surgiu, porém, uma nova interdição de touros. A maioria municipal socialista acaba de declarar Viana do Castelo a primeira “cidade anti-touradas” em Portugal, emulando 53 cidades espanholas. O que se vai fazer com a praça de touros de Viana? Pois a ideia da Câmara é excelente: transformá-la num Centro Ciência Viva, um espaço cultural aberto a todos e não apenas aos aficionados.
Aos defensores dos espectáculos tauromáquicos têm-se oposto os defensores dos direitos dos animais. Se os primeiros dizem que “se há alguém que cuida e que ama os touros são os próprios toureiros", os segundos ripostam que isso "é o mesmo que dizer que os pedófilos são os melhores amigos das crianças" (Público, 5/12/2008). Como argumento para o fim das touradas, não só em Arronches como no resto do país, julgo que nem é preciso invocar os direitos dos animais. Quando há uma absurda sucessão de mortes humanas, bastará invocar os direitos dos homens.»
Crónica de Carlos Fiolhais in "Público"
Março 2009
(vale a pena lerem os comentários desta crónica)
Muita gente se lembra desse conto, “Última corrida de touros em Salvaterra”, que até já deu a letra de um fado. Mas, para quem nunca o leu, acrescento que também aí há uma morte na arena, embora de um cavaleiro, o Conde dos Arcos. O velho pai, o Marquês de Marialva, que assistia à lide, desceu da bancada para enfrentar o touro, conseguindo ao matá-lo vingar a morte do filho. A corrida era real pois D. José estava a assistir, acompanhado pelo Marquês de Pombal. Nesta altura, o melhor é dar a palavra ao escritor, que narra assim o diálogo entre o rei e o primeiro-ministro:
“Sebastião José de Carvalho voltava de propósito as costas à praça, falando com o monarca. Punia assim a barbaridade do circo. — Temos guerra com a Espanha, Senhor. É inevitável. Vossa Majestade não pode consentir que os touros lhe matem o tempo e os vassalos! Se continuássemos neste caminho... cedo iria Portugal à vela. — Foi a última corrida, marquês. A morte do conde dos Arcos acabou com os touros reais, enquanto eu reinar.”
Fui agora averiguar a veracidade desta história. A morte do Conde dos Arcos foi, de facto, autêntica, embora não tenha ocorrido na praça de Salvaterra, sob o olhar do rei e da sua corte (D. José já tinha falecido), mas sim num “brinco”, à vara larga, num sítio da lezíria perto de Salvaterra. O escritor romanceou bastante o episódio de modo que este melhor entrasse na literatura... Se eu, em jovem, julguei verídica a conclusão, agora limito-me a desejar que o tivesse sido: o fim das corridas de touros em Salvaterra. Impressionado com as circunstâncias da morte do jovem portalegrense, ao mesmo tempo que apresento os pêsames à sua família e amigos, não posso deixar de pensar que uma boa forma de manter viva a memória do jovem – o sexto forcado a morrer em lides taurinas nos últimos vinte anos! - seria determinar que a última corrida em Arronches, tal como a de Salvaterra no conto, tivesse mesmo sido a última.
D. José pode não ter proibido as corridas de touros, mas D. Maria II fê-lo em todo o território nacional. Em 1836, doze anos antes de Rebelo da Silva publicar o seu conto, o ministro do Reino Passos Manuel promulgou um decreto proibindo as touradas:
“Considerando que as corridas de touros são um divertimento bárbaro e impróprio de Nações civilizadas, bem assim que semelhantes espectáculos servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade, e desejando eu remover todas as causas que possam impedir ou retardar o aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa, hei por bem decretar que de hora em diante fiquem proibidas em todo o Reino as corridas de touros.”
A proibição não durou mais do que escassos nove meses, tendo a tradição voltado a ser o que era. Nos dias de hoje surgiu, porém, uma nova interdição de touros. A maioria municipal socialista acaba de declarar Viana do Castelo a primeira “cidade anti-touradas” em Portugal, emulando 53 cidades espanholas. O que se vai fazer com a praça de touros de Viana? Pois a ideia da Câmara é excelente: transformá-la num Centro Ciência Viva, um espaço cultural aberto a todos e não apenas aos aficionados.
Aos defensores dos espectáculos tauromáquicos têm-se oposto os defensores dos direitos dos animais. Se os primeiros dizem que “se há alguém que cuida e que ama os touros são os próprios toureiros", os segundos ripostam que isso "é o mesmo que dizer que os pedófilos são os melhores amigos das crianças" (Público, 5/12/2008). Como argumento para o fim das touradas, não só em Arronches como no resto do país, julgo que nem é preciso invocar os direitos dos animais. Quando há uma absurda sucessão de mortes humanas, bastará invocar os direitos dos homens.»
Crónica de Carlos Fiolhais in "Público"
Março 2009
(vale a pena lerem os comentários desta crónica)
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