sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Testemunhos


"Eu já gostei de touradas(aaargh) em criança/adolescente. Nasci e vivi até aos 18 anos numa cidade alentejana em que grande parte dos meus amigos tinham montes com vacas, touros e cavalos. Ia a todas as touradas, em Santarém, Lisboa, Vila Franca de Xira, Moita, Montijo, com os chamados "grandes cavaleiros" e "bons touros", com uns amigos dos meus pais. Até que aos 10/11 anos numa tourada no Campo Pequeno deixei de olhar para os forcados e olhei atentamente para o touro e o que senti foi horrível quando a chamada pega se deu. Chorei imenso e só pensava como era possível gostar de algo tão descabido e hediondo. Não sei o porquê desta situação mas bendita luz e tomada de consciência que tive!Os meus amigos passaram a ser os considerados na cidade por anarquistas, comunas, piolhosos, drogados, pseudo-intelectuais e os que "têm a mania que são diferentes e sabichões andam sempre com um livro debaixo do braço para mostrarem que lêem"(esta é a que eu gostava mais). Aos 15/16 anos tive uma enorme paixão, vai-se lá saber porquê, por alguém completamente aficionado das touradas e é claro que o namoro pouco durou, apesar da paixão continuar. Há uns tempos encontrei-o e depois dos abraços e beijinhos ele diz-me: "já não gosto de touradas e sou completamente contra, queres casar comigo?". A percepção daquilo que nos rodeia é diferente para cada um de nós, e é essa a razão do nível de consciência crescer a níveis temporais diferentes. O que é importante é que existam cada vez mais "alguéns" como nós para que "eles" sejam cada vez menos."
Anabela Viegas

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